Saturday, July 31, 2004

Nau Cratineta



Lá vem a Nau Catrineta
Que tem muito que contar
São Paulo Portas à proa
Santanás a comandar
Ouvi agora senhores
Uma história de pasmar

D. Bagão conta o pilim
D. Morais trata das velas
D. Guedes limpa com VIM
Tachos, pratos e panelas

D. Pereira na enfermaria
Conta pensos e emplastros
E o D. António Mexia
Põe vaselina nos mastros

D. Durão deu à soleta
Enjoou de andar à vela
E Santa Manuela Forreta
Largou-os sem lhes dar trela

Aflito El-Rei Sampaio
Com estas novas tão más
Disse aos bobos de soslaio
Chamai lá o Santanás
Aqui estou meu Senhor

Vós mandasteis-me chamar?
Soube agora desse horror
D. Durão vai desertar?
Cala-te lá meu charmoso

Não me lixes mais a vida
Troco um cherne mal-cheiroso
Por um carapau de corrida?
Pobre da Nau Catrineta

Já lamento a tua sorte
Esta marinhagem da treta
Nem sabe onde fica o Norte
Parece que já estou vendo

Em vez de descobrir mundo
Ao primeiro pé de vento
Espetam com o barco no fundo
Ou então este matraque

Com pinta de Valentino
Gasta-me a massa do saque
Nas boîtes do caminho
Não se aflija meu Rei

Que agora vou assentar
Pois depois do que passei
Cheguei onde quis chegar
E por aquilo que passei

Aqui ninguém nos escuta
Eu quero mesmo é ser Rei
E vamos embora à luta.


retirado de: www.blogosocialportugues.blospot.com

Porque saí do BE para o PS.

Exmos. Srs. da Comissão Executiva do Bloco de Esquerda,


Venho, por este meio, no seguimento da minha inactividade dentro do aparelho partidário, requerer a anulação da minha filiação no Bloco de Esquerda.

A minha saída não deve ser interpretada como uma mudança de convicções ou mesmo de ideais, pelo contrário, abandono o movimento com a certeza que “nada se ganha, nada se perde, tudo se transforma”. Assumo pois, a responsabilidade de continuar a perseguir o sonho, mesmo fora do bloco contínuo a acreditar na liberdade. Com o bloco obtive experiências e ensinamentos que de certeza me serão úteis no futuro, em que continuarei a tentar modificar mentalidades e consciências, sempre no respeito pela diferença.

Em cinco anos, o Bloco de Esquerda pautou a sua actuação pela positiva. Todos os portugueses sentiram que “a Liberdade estava a passar por aqui” e várias forças de tradições distintas mas convicções unitárias juntaram-se e tentaram “começar de novo”. A Assembleia da Republica não conhecia um deputado da “esquerda revolucionária” desde que a UDP tinha perdido o seu assento parlamentar. O BE em duas legislaturas conseguiu eleger primeiro dois e depois três deputados, que honrosamente deram a sua vós pelo aborto, contra a globalização, em defesa das minorias sexuais, sociais e étnicas e promoveram sempre uma postura de frontalidade e combate.

É extraordinário como forças tão distintas conseguiram dar a mão, a heterogeneidade política do bloco constitui um dos seus maiores fortes, mas também um dos seus principais problemas. Lembro-me que aquando da fundação do movimento ouvi o Dr. Garcia Pereira (líder do PCTP/MRPP) proferir na televisão que “o bloco é uma feijoada ideológica”, nunca estive tão ciente de tal facto como agora e também do problema que este constitui. Se tomarmos o BE na totalidade dos seus aderentes, podemos facilmente concluir que este abarca tradições de vários movimentos tão distintos como FEC(ML) e MDP/CDE ou OCMLP e LCI, que sempre tiveram visões distintas não só do marxismo, mas também da política em geral.

O Bloco de Esquerda conseguiu unir toda uma esquerda heterogenia em torno dos problemas políticos e sociais da actualidade. Mas pecou por no meio desta heterogeneidade só ter conseguido abarcar movimentos de cariz “extremista” (não no sentido pejorativo da palavra). Na minha opinião é impossível construir uma verdadeira alternativa de esquerda para o nosso país se não tivermos uma visão europeísta da actualidade. Não podemos ser retrógrados ao ponto de continuarmos a encarar os agentes de produção como “capitalistas e proletários”, temos que ter a noção que depois do 25 de Abril já caiu o muro e abriu-se a “cortina de ferro”.



Bertolt Brechet num dos seus poemas referiu que “os vencidos de hoje serão os vencedores de amanhã”. E tem razão, contínuo a acreditar numa sociedade mais justa e em que a igualdade impere, mas sinto-me convicto que de certeza não passará pela “ditadura do proletariado”. O capitalismo só pode ser vencido com o auxílio da democracia, através de transformações políticas e sociais, que visem melhorar as condições de vida dos mais pobres, promover a igualdade e promover a transparência financeira.

O Bloco de Esquerda serve sem dúvida para mexer em tabus e alertar as consciências, promover o direito pela diferença, lutar pelo direito dos trabalhadores e dos estudantes e lançar vários desafios à sociedade. Mas quais são os efeitos práticos desta política? O bloco contínua a ser um movimento com pouca expressão, mas com muita projecção devido à maneira inteligente como vocês sabem usar a comunicação social. A globalização que vocês tanto criticam é utilizada para ganhar visibilidade, num eleitorado marcadamente urbano e esclarecido.

Na minha opinião, actualmente só existe um partido capaz de construir uma verdadeira alternativa à direita no nosso país. O BE não conta nem com uma base eleitoral, nem com meios para conseguir atingir o poder e governar, com a estabilidade que o nosso país merece e precisa. É urgente fazer várias transformações “de esquerda”, em vários sectores governativos, mas dentro de uma linha de moderação.

Perante a conjuntura actual, em que temos uma direita extremista minoritária a controlar os destinos do país, é urgente construir uma alternativa governativa viável. E tal alternativa pode e deve ser construída com o auxílio do BE e também de todas as outras forças de esquerda.

Só um partido que tenha esquecido os velhos dogmas e encare o futuro de uma forma progressista, pode assumir a responsabilidade de comandar o destino da nação, desenvolve-la e promover uma transformação social. É preciso que trabalhadores, empresários, comerciantes, intelectuais, humanistas, estudantes e ecologistas dêem as mãos para poderem enfrentar este desafio. Portugal merece.

Terminando, gostava de obter com a maior brevidade uma resposta ao meu pedido de cancelamento da filiação no movimento.

Os melhores cumprimentos,

Friday, July 30, 2004

Caros amigos,

Decidi criar este "blog" para debater os problemas sociais que o nosso país e o mundo atravessam. Achei interessante lançar o debate em torno da esquerda, esta nova esquerda do século XXI que acredita no "Socialismo em Liberdade", uma esquerda da cidadania, que mexe em tabus e alerta consciências, sempre no respeito pela diferença.

Atravessamos tempos complicados, o populismo mediático tomou conta do governo e pode vir até a tomar conta da esquerda. A indiferença afecta os jovens e o cidadão comum, os políticos caíram na descrença das populações e o sonho não é mais que fantasia, mistificada utopia que se desvanece nos corações dos sociais-democratas, que se entregam à indiferença.

Estaremos então a caír na política do "show-off"? Como diz M. Alegre: "Apartir de agora é tudo imagem, sacanagem / Gosto amargo do mundo / Bebe-se um trago, fica-se um travo (...) Mas se a História é interdita, e não nos resta sequer a escrita, que farei eu com este cravo?". (Manuel Alegre) 
 
Somos nós, jovens e socialistas que temos que dar uma resposta. Lançar o debate e lutar para construírmos um mundo novo. Mas, "isto vai meus amigos isto vai,/ um passo atrás são sempre dois em frente/ e um povo verdadeiro não se trai / não quer gente mais gente que outra gente." (J. C. Ary dos Santos)

Saudações Socialistas!