Friday, November 12, 2004

17º congresso do PCP



17º Congresso do PCP
Notas sobre o Projecto de Resolução Política

Por Joaquim Miranda (Membro do PCP)

Portalegre, Outubro de 2004




"Um debate tardio, viciado e sem perspectivas, num partido cercado

3.1. As reflexões a que fiz alusão e que se seguem sobre o projecto de Resolução Política não podem deixar de ter como pano de fundo a situação antes referida. Mas tão pouco esta pode impedir uma consideração mais geral sobre a situação e a vida interna e sobre as orientações do Partido.

É isso que passo a fazer à luz do projecto de Resolução Política e sem prejuízo de considerar, à partida, que o “ debate” anunciado sobre o referido documento é tardio, está viciado e é falho de ambições e de perspectivas.

3.1.1. Se não bastassem já as regras do “centralismo democrático criativo” , que determinam que tudo passe obrigatoriamente pelo crivo do núcleo central de direcção do Partido (da fixação do momento e das normas do Congresso, passando pela elaboração de documentos e pela análise das contribuições, até à definição da composição futura dos órgãos de direcção, incluindo o secretário-geral) e impedem a circulação, o conhecimento e o debate de diferentes opiniões e propostas, resulta ainda patente nas Teses uma arrogante e indesmentível indisponibilidade para qualquer consideração das posições diferenciadas de membros do Partido quanto ao que entendem poderem e/ou deverem ser os contornos essenciais da sua base ideológica, das suas estratégias e políticas de alianças, das suas regras, métodos e estilos de funcionamento ou, em geral, das suas formas de estar e intervir na sociedade.

E, daí, a minha profunda convicção de que as presentes considerações “cairão em saco roto”.

3.1.2. Isso mesmo decorre evidente do estigma e da catalogação depreciativa de quantos vêm afirmando tais posições, ainda que num quadro de inabaláveis convicções comunistas, que insisto em reafirmar.

O conteúdo da tese 4.2.6. é, a esse propósito, esclarecedor: ” Nesta acção ( “que visa promover o anticomunismo, uma falsa imagem do partido e o aumento dos preconceitos contra ele... e promover a sua desagregação...” - tese 4.2.5 .) têm uma participação activa ex-membros do Partido e alguns outros que continuam a invocar a qualidade de membros e que convergem na acção anticomunista para atacar o Partido na sua essência e criar dificuldades ao reforço da sua influência social, política e eleitoral. E que, dando provas de capitulação ideológica, se rendem e submetem à ideologia do grande capital, promovem a desagregação orgânica do P, prosseguindo no desgaste da sua imagem e influência, assumindo-se cada vez mais como apêndices do PS e do BE ”.

Ou seja: todos aqueles (mesmo os “outros” , os que “...continuam a invocar a qualidade de membros do Partido” ) que se arvoram no direito de ter e apresentar análises e perspectivas diferentes ou alternativas das que resultam das elucubrações dos dirigentes do Partido vertidas no projecto de Resolução Política estão condenados à condição de “inimigos do Partido” – tese 4.2.7.

Recuso-me a catalogar tal asserção, mesmo se ela resultaria fácil e incontestável já que são óbvios os objectivos persecutórios e de limpeza política que lhe estão subjacentes, na conhecida lógica de que o importante é assegurar, neste momento, que no Partido fiquem “poucos, mas bons”!

3.1.3. De resto, as Teses evidenciam uma tal visão maniqueísta e de partido cercado, que inevitável se torna encontrar perigos e inimigos onde menos se esperaria (como se não bastassem os que realmente existem).

Para além dos perigos e inimigos internos, eles podem ainda encontrar-se e são explicitamente referenciados na CGTP-IN ou, inclusivamente, em outros partidos comunistas.

3.1.3.1. Na primeira, são “ as forças e sensibilidades político-ideológicas, designadamente reformistas e ex-esquerdistas, que...têm vindo a evoluir para concepções e posições que, a serem concretizadas no plano do funcionamento e composição das estruturas da direcção do movimento sindical nos seus diversos níveis, conduziriam ao desvirtuamento e desagregação... ” – tese 3.5.14.

São óbvios os objectivos e os destinatários..."

www.comunistas.info/0410/j_miranda.htm

Morreu Arafat



O porquê da existência dos políticos.

Depois de algum tempo de ausência, volto com uma pequena reflexão sobre política e, mais concretamente, sobre os políticos. É dito e sabido que a maioria da população tem uma má imagem dos políticos, que são tidos como carreiristas, que fazem da política um modo de vida, de sobrevivência e de promoção pessoal e social. Na verdade o justo paga pelo pecador e os bons políticos, desinteressados na sua carreira e trabalhando pelo bem comum, são postos no mesmo saco que outros.

Para elaborar um exercício reflexivo sobre o assunto, é necessário, em primeiro lugar, tentar perceber qual é a função dos políticos na sociedade e se eles são importantes ou não para o bom funcionamento do país. Os políticos, na minha opinião, têm um papel preponderante na sociedade, na medida em que devem fazer aplicar na governação a vontade geral da população. O problema é que isto, muitas vezes, não acontece e vemos inúmeros casos de clientelas partidárias que rodam a um nível alucinante pelos organismos governativos e empresas públicas, à medida que os governos se vão sucedendo, tal facto leva a que muitas pessoas que têm responsabilidades públicas sejam nomeadas, não pela sua competência ou vontade de servir as populações, mas sim pela sua cor partidária.

É urgente que as próprias pessoas que têm responsabilidades políticas façam um acto de contrição e percebam que a sua função social é ouvir os anseios, problemas e expectativas das populações, para posteriormente trabalharem em prol da melhoria da qualidade de vida das mesmas. E este assunto não pode ser encarado de um ponto de vista ideológico, pelo contrário, deve ser tido como um assunto ético, aplicável tanto aos políticos da esquerda como da direita.

Quando uma pessoa decide ter responsabilidades políticas deve assumir um desafio de trabalho e dedicação para com as pessoas que o elegem. É muito importante que se abandone uma visão redundante e errada de que todos os políticos são iguais, e é urgente que a juventude mostre que sabe inovar, ou seja, entregar-se à actividade política em prol do país e não em prol do seu sucesso profissional.


João Gomes
in Jornal Labor