Muitas vezes tenho a percepção que o PS e o PSD são vistos como similares, de valores idênticos e até por vezes confundidos na sua génese. Convém notar que esta ideia é completamente errada, embora continue a ser alimentada por aqueles a quem convém continuar a lançar poeira para os olhos dos portugueses.
Um partido deve ser olhado, em primeiro lugar, tendo em conta o seu passado, a sua história enquanto movimento que tem sempre na sua génese a defesa de um método de governação, de um conjunto de valores e muitas vezes um conjunto de princípios que posteriormente servirão para construir a sua agenda política. Observando a questão neste prisma, temos um Partido Socialista nascido na primavera de 1974 e que conseguiu juntar um conjunto de pessoas que tinham em comum uma visão democrática de esquerda para Portugal. Para além disso é preciso lembrar a família europeia e internacional do PS, onde tivemos personalidades como Willy Brandt, Olof Palme, Felipe Gonzalez, Mitterrand e Yasser Arafat. Políticos que em cantos diferentes do mundo construíram uma ideologia do socialismo democrático do século XX, fomentando a paz e uma maior equidade social.
Do lado do PSD temos um partido que vive a reboque, desde da morte de Sá Carneiro, de um conjunto de personalidades que comungam de uma ideologia que não se sabe bem se conservadora de direita ou apenas neo-liberal, mas que será certamente tudo menos social-democrata. Comprovamos isso quando temos uma defesa de políticas que anulam por completo o sentido de Estado Social keyneziano pelo qual se bateram verdadeiramente os democratas de esquerda no século passado. O PSD há muito tempo que deixou de olhar o estado enquanto estratega da economia e regulador do ponto de vista social, a quem cabe construir uma nação forte não só de ponto de vista económico, mas também do ponto de vista social, ambiental, cultural e principalmente humano.
Mas é certo e sabido que a política deve contemplar a construção de um futuro e não só a análise de um passado, embora por vezes seja necessário perceber o passado, para compreender o presente e prever o futuro. Nisso o PS continua, mais uma vez, apostado em construir uma visão de uma esquerda moderna, que se orgulha do seu passado e das conquistas da democracia e da esquerda no seu todo, mas que tenta projectar um futuro em que tenhamos um Portugal mais forte e empreendedor, onde não exista uma clivagem social tão acentuada e onde os grandes interesses (farmácias por exemplo) não prejudiquem o desenvolvimento do nosso país. Enquanto isso o PSD perde-se em sucessivos congressos, à deriva não só na sua liderança, mas igualmente na agenda política que quer para o nosso país. Neste momento a social-democracia laranja não consegue influenciar a governação, não consegue lançar grandes temas para a discussão nacional, não consegue fazer oposição credível e nem sequer consegue construir e solidificar o ser próprio espaço político.
Afinal muitas são as diferenças entre um Esquerda Moderna e responsável apostada em construir um risonho século XXI e a social-democracia laranja que parece estar apagada e perdida num qualquer beco político do nosso país.