Friday, November 12, 2004

17º congresso do PCP



17º Congresso do PCP
Notas sobre o Projecto de Resolução Política

Por Joaquim Miranda (Membro do PCP)

Portalegre, Outubro de 2004




"Um debate tardio, viciado e sem perspectivas, num partido cercado

3.1. As reflexões a que fiz alusão e que se seguem sobre o projecto de Resolução Política não podem deixar de ter como pano de fundo a situação antes referida. Mas tão pouco esta pode impedir uma consideração mais geral sobre a situação e a vida interna e sobre as orientações do Partido.

É isso que passo a fazer à luz do projecto de Resolução Política e sem prejuízo de considerar, à partida, que o “ debate” anunciado sobre o referido documento é tardio, está viciado e é falho de ambições e de perspectivas.

3.1.1. Se não bastassem já as regras do “centralismo democrático criativo” , que determinam que tudo passe obrigatoriamente pelo crivo do núcleo central de direcção do Partido (da fixação do momento e das normas do Congresso, passando pela elaboração de documentos e pela análise das contribuições, até à definição da composição futura dos órgãos de direcção, incluindo o secretário-geral) e impedem a circulação, o conhecimento e o debate de diferentes opiniões e propostas, resulta ainda patente nas Teses uma arrogante e indesmentível indisponibilidade para qualquer consideração das posições diferenciadas de membros do Partido quanto ao que entendem poderem e/ou deverem ser os contornos essenciais da sua base ideológica, das suas estratégias e políticas de alianças, das suas regras, métodos e estilos de funcionamento ou, em geral, das suas formas de estar e intervir na sociedade.

E, daí, a minha profunda convicção de que as presentes considerações “cairão em saco roto”.

3.1.2. Isso mesmo decorre evidente do estigma e da catalogação depreciativa de quantos vêm afirmando tais posições, ainda que num quadro de inabaláveis convicções comunistas, que insisto em reafirmar.

O conteúdo da tese 4.2.6. é, a esse propósito, esclarecedor: ” Nesta acção ( “que visa promover o anticomunismo, uma falsa imagem do partido e o aumento dos preconceitos contra ele... e promover a sua desagregação...” - tese 4.2.5 .) têm uma participação activa ex-membros do Partido e alguns outros que continuam a invocar a qualidade de membros e que convergem na acção anticomunista para atacar o Partido na sua essência e criar dificuldades ao reforço da sua influência social, política e eleitoral. E que, dando provas de capitulação ideológica, se rendem e submetem à ideologia do grande capital, promovem a desagregação orgânica do P, prosseguindo no desgaste da sua imagem e influência, assumindo-se cada vez mais como apêndices do PS e do BE ”.

Ou seja: todos aqueles (mesmo os “outros” , os que “...continuam a invocar a qualidade de membros do Partido” ) que se arvoram no direito de ter e apresentar análises e perspectivas diferentes ou alternativas das que resultam das elucubrações dos dirigentes do Partido vertidas no projecto de Resolução Política estão condenados à condição de “inimigos do Partido” – tese 4.2.7.

Recuso-me a catalogar tal asserção, mesmo se ela resultaria fácil e incontestável já que são óbvios os objectivos persecutórios e de limpeza política que lhe estão subjacentes, na conhecida lógica de que o importante é assegurar, neste momento, que no Partido fiquem “poucos, mas bons”!

3.1.3. De resto, as Teses evidenciam uma tal visão maniqueísta e de partido cercado, que inevitável se torna encontrar perigos e inimigos onde menos se esperaria (como se não bastassem os que realmente existem).

Para além dos perigos e inimigos internos, eles podem ainda encontrar-se e são explicitamente referenciados na CGTP-IN ou, inclusivamente, em outros partidos comunistas.

3.1.3.1. Na primeira, são “ as forças e sensibilidades político-ideológicas, designadamente reformistas e ex-esquerdistas, que...têm vindo a evoluir para concepções e posições que, a serem concretizadas no plano do funcionamento e composição das estruturas da direcção do movimento sindical nos seus diversos níveis, conduziriam ao desvirtuamento e desagregação... ” – tese 3.5.14.

São óbvios os objectivos e os destinatários..."

www.comunistas.info/0410/j_miranda.htm

Morreu Arafat



O porquê da existência dos políticos.

Depois de algum tempo de ausência, volto com uma pequena reflexão sobre política e, mais concretamente, sobre os políticos. É dito e sabido que a maioria da população tem uma má imagem dos políticos, que são tidos como carreiristas, que fazem da política um modo de vida, de sobrevivência e de promoção pessoal e social. Na verdade o justo paga pelo pecador e os bons políticos, desinteressados na sua carreira e trabalhando pelo bem comum, são postos no mesmo saco que outros.

Para elaborar um exercício reflexivo sobre o assunto, é necessário, em primeiro lugar, tentar perceber qual é a função dos políticos na sociedade e se eles são importantes ou não para o bom funcionamento do país. Os políticos, na minha opinião, têm um papel preponderante na sociedade, na medida em que devem fazer aplicar na governação a vontade geral da população. O problema é que isto, muitas vezes, não acontece e vemos inúmeros casos de clientelas partidárias que rodam a um nível alucinante pelos organismos governativos e empresas públicas, à medida que os governos se vão sucedendo, tal facto leva a que muitas pessoas que têm responsabilidades públicas sejam nomeadas, não pela sua competência ou vontade de servir as populações, mas sim pela sua cor partidária.

É urgente que as próprias pessoas que têm responsabilidades políticas façam um acto de contrição e percebam que a sua função social é ouvir os anseios, problemas e expectativas das populações, para posteriormente trabalharem em prol da melhoria da qualidade de vida das mesmas. E este assunto não pode ser encarado de um ponto de vista ideológico, pelo contrário, deve ser tido como um assunto ético, aplicável tanto aos políticos da esquerda como da direita.

Quando uma pessoa decide ter responsabilidades políticas deve assumir um desafio de trabalho e dedicação para com as pessoas que o elegem. É muito importante que se abandone uma visão redundante e errada de que todos os políticos são iguais, e é urgente que a juventude mostre que sabe inovar, ou seja, entregar-se à actividade política em prol do país e não em prol do seu sucesso profissional.


João Gomes
in Jornal Labor

Tuesday, October 19, 2004

Panorama do Associativismo Estudantil em S. João da Madeira

"Estudantes estão amorfos
quer política quer socialmente"




A chama do Associativismo Estudantil e do espírito académico está praticamente apagada em S. João da Madeira. Das três escolas secundárias do concelho, apenas uma tem Associação de Estudantes (AE). A Escola Secundária João da Silva Correia é o único estabelecimento de ensino público que tem tido sempre AE. O Centro de Ensino Integral (CEI) também possui uma Associação, apesar de ser constituída em moldes diferentes.

O LABOR ouviu os quatro presidentes dos conselhos executivos destas escolas para tentar saber onde anda o espírito associativo dos estudantes.

No CEI, neste momento, existe uma AE e uma Associação de Pais, apesar de "não terem estatutos feitos no notário", explica Joaquim Valente, presidente do conselho executivo. Segundo o responsável, a escola pretende acolher juridicamente a associação de pais e a de alunos numa só associação. Contudo, garante que em termos de funcionamento, "cada uma terá a sua secção independente". Para além da intenção de integrar pais e alunos num só organismo, a escola pretende também incluir ex-alunos e ex-pais nesta Associação. Segundo o professor Valente, "este tipo de instrumentos são bons conselheiros do bom funcionamento da escola".

No ano 2000/2001, João Gomes (presidente da AE da N.º 2 do ano anterior e recandidato neste ano, ver abaixo) participou numa plataforma informal de estudantes que reunia alunos de todas as escolas secundárias em S. João da Madeira. Nessa altura, segundo João Gomes, "conseguimos captar vários alunos, mas a partir daí não houve um esforço". Para João Gomes, uma das coisas a fazer no seu eventual próximo mandato, é "incentivar os alunos e tornar a própria AE da N.º 2 um motor de incentivo para as outras escolas criarem uma AE".

"Há uma atitude de completa passividade por parte dos estudantes. Na Serafim Leite e na N.º 3 os estudantes estão amorfos quer política quer socialmente. Não têm uma visão da importância do associativismo estudantil e juvenil e acabam por ficar arredados das grandes lutas do ensino e por não ter parte activa na escola", alerta João Gomes.

Na Escola Secundária Dr. Serafim Leite há dois anos houve AE, mas no ano passado não. Esta semana começou o processo de apresentação de listas. Até a data nenhuma foi apresentada. Pedro Gual, presidente do conselho executivo, explica que "normalmente a dificuldade que ocorre deve-se ao facto de, conforme o regulamento interno, a lista tem de incluir alunos do ensino recorrente. Esta situação torna-se um obstáculo". No entanto, Pedro Gual garante que "os alunos estão representados na Assembleia de Escola e no Conselho Pedagógico".

Apesar de não existir uma AE, o responsável pela escola considera que este organismo é "muito importante para dinamizar a própria escola com projectos bem como a nível da representatividade".

Na Escola Secundária N.º 3, as últimas vezes que existiu uma AE foi eleita apenas no 3.º período e era constituída por alunos do 12.ºano. Daí e, como explica Mário Coelho, presidente do conselho executivo, "não ter havido continuidade [ao projecto] porque os alunos saíram da escola e quando foram eleitos o ano já estava no fim".

Mário Coelho afiança que "já demos legislação aos alunos para formar uma associação, alertamos para a importância da sua constituição, mas os alunos deixaram de se interessar e as listas não aparecem". A título de exemplo deste desinteresse, o responsável lembra que na Assembleia de Escola, "os alunos ainda aparecem as primeiras vezes mas depois não voltam".

O cenário na Escola Secundária João da Silva Correia é diferente. Desde sempre existe AE, umas lembradas com um papel mais activo outras não tanto. Como recorda Margarida Violante, presidente do conselho executivo, "foi graças a uma AE que se deixou de fumar no recinto da escola". Outras "experiências positivas" da responsabilidade da AE, frisadas pela responsável, é a feira das profissões realizada anualmente. Segundo Margarida Violante, "trabalhar com os alunos como parceiros resulta em grande sucesso".

O processo eleitoral para constituição da AE decorre até ao dia 30 deste mês. Até agora só foi apresentada uma lista: a lista A. Com o slogan "Uma lista responsável", esta lista resulta da recandidatura do grupo de alunos que dirigiu a AE da Escola N.º 2. O LABOR conversou com João Gomes, presidente da lista A, para conhecer os meandros do Associativismo Estudantil na cidade.



Visão de um dirigente associativo



João Gomes, 17 anos, frequenta a Escola Secundária João da Silva Correia pelo sexto ano consecutivo. Foi Presidente da AE no ano transacto, Vice-Presidente no ano lectivo 2001/2002 e nos últimos dois anos foi representante dos discentes na Assembleia de Escola. Neste ano lectivo, apresentou a sua recandidatura como cabeça de lista à AE.

Questionado acerca do panorama passivo em relação ao associativismo estudantil patente nas outras escolas secundárias da cidade, João Gomes fez referência a cada estabelecimento de ensino como casos particulares. Apesar de a João da Silva Correia possuir AE, são poucas as listas apresentadas ou, por vezes, somente uma. João Gomes afirma que esta escola "é um caso particular porque é uma escola muito pequena". Como explica, anteriormente era uma escola com um número de vagas muito grande para cursos de prosseguimento de estudos. E, agora, tem muita gente a frequentar cursos como o de Animação Social [área técnico profissional]. Desta feita, "estas pessoas, na sua maioria, não pensam prosseguir os estudos e não têm uma vida académica muito activa. Muitos já trabalham, estudam e têm «part-times», logo não têm muito tempo para ficar na associação de estudantes". Para além deste factor, a dimensão reduzida da escola conduziu de há uns anos para cá, segundo João Gomes, "a uma enorme estagnação na quantidade de pessoas interessadas em formar listas".

Desde há três, quatro anos que existe um grupo de pessoas, um "núcleo duro", que tem tomado conta da associação de estudantes. João Gomes insere-se nesse grupo em conjunto com outros e têm tido um papel activo não só na AE como também na Assembleia de Escola e no Conselho Pedagógico.



Escola deve incentivar o associativismo



Em relação ao que se passa na Escola Secundária N.º 3, João Gomes revela que "sei que no ano passado houve tentativas para formar uma AE. Mas, creio que devido à burocracia legal não foi levada para a frente". Segundo João Gomes, "creio que o Conselho Executivo exigiu que a associação fosse formada legalmente, o que colocou alguns entraves e os alunos acabaram por ficar com o pé atrás".

O estudante lamenta a inexistência de uma associação e considera "muito estranho que numa Escola tão grande como a N.º 3 , haja uma passividade a este nível". Até porque, segundo João Gomes, "embora nunca tenha tido uma associação formalmente constituída, esta escola tinha uma participação activa, nomeadamente nas lutas estudantis contra a revisão curricular no governo PS e depois no do PSD e contra o novo estatuto do aluno".

O caso da Serafim Leite é "mais específico". Houve AE, mas no ano lectivo passado não. Como conta João Gomes, "os dirigentes, de há dois anos, continuaram na escola mas decidiram não tomar parte activa, uns por motivação política e porque se inseriram noutros meios e decidiram não continuar com o projecto".

Nestes últimos dois anos, segundo João Gomes, "nunca houve sinais de pessoas empenhadas em formar uma AE". Tal gera alguma confusão a João Gomes, uma vez que "esta escola sempre teve uma grande abertura com os estudantes. Era a própria Serafim Leite que convidava os estudantes a formar listas". Para além disso, no ano passado, a N.º 2 lançou um movimento contra a Lei de Bases da Educação e "teve boa receptividade por parte dos alunos da N.º 1 que participaram socialmente". Daí afirmar "não percebo" porque não surgem listas a concorrer. Por outro lado, admite é um caso mais complicado que a N.º 2 por ser uma escola maior logo é preciso mais meios efectivos para fazer uma campanha.

Desta forma, João Gomes considera que é um problema a ser resolvido pela própria Administração da Escola. Esta deve procurar "incentivar os alunos e dar-lhes meios para formar uma AE". E mais, "perceberem o contributo da AE na formação pessoal dos próprios alunos" e na possibilidade deles se tornarem "parte activa na democracia, na sociedade de S. João da Madeira, tomem posições e tenham uma atitude cultural diferente".



Outra dinâmica para superar dificuldades



A AE da Escola N.º 2 do ano transacto, recandidata-se agora com um novo desafio para superar algumas dificuldades: a adesão à Confederação Nacional de Associações de Estudantes (CONFNAES). Assim, a AE pode passar a ter parte activa na sociedade e melhorar as condições de funcionamento da própria associação. Para além disso, esta adesão traduz a possibilidade da AE pedir subsídios ao Instituto Português da Juventude (IPJ), à Câmara Municipal e a outras entidades de apoio ao associativismo estudantil. Porque, ao não estar devidamente legalizada, só possui um orçamento de 30 euros para o ano inteiro. Também passa a ser uma entidade jurídica o que, segundo João Gomes, "pode ser útil quando surgirem conflitos. E perante a administração da escola, a associação ganha outro estatuto". A adesão à CONFNAES revela-se também importante já que, apesar de existirem mais, "esta é a única plataforma nacional de estudantes que tem assento na Comissão nacional de juventude e de educação do Governo".

A escola N.º 2, a nível dos organismos nacionais, sempre colaborou com a delegação nacional de associação de estudantes (DNAE) [plataforma não legalmente constituída, marcadamente de esquerda que sempre pautou a sua actividade pelo combate de esquerda no Ensino, exclusivamente à luta estudantil]. Contudo, João Gomes considera que a DNAE já não é "fundamental" daí ser premente a adesão à CONFNAES. "Temos observado que aquando das grandes lutas, a DNAE já não tem grande actuação e deixa de ter algum fundamento".

João Gomes considera necessário "abrir novas fronteiras para a AE que passam pelo âmbito cultural, desportivo, lúdico, etc. Aí há outra estrutura, já legalmente constituída, que revela-se mais capaz – CONFNAES – que entendemos que é mais abrangente". A adesão à CONFNAES fará com que os membros da AE "possam ter parte activa na estrutura do ensino secundário a nível nacional".

A título de exemplo, João Soares refere a AE de uma escola da Amadora que conseguiu vários apoios, nomeadamente do Estado, de fundações e da própria escola. Desta forma, esta associação conseguiu levar a cabo projectos sociais de apoio aos estudantes carenciados e às suas famílias. "A própria Associação providenciava cestos com comida para distribuir a estas famílias dos estudantes desfavorecidos", conta João Gomes.



"primeiro passo na política (...)"



Este ano João Gomes foi convidado, por ter sido o antigo presidente da AE, a fazer uma pequena palestra esclarecedora para cada ano sobre o que é a AE, o que é o movimento associativo e qual a representação e papel dos estudantes na gestão da escola. Confessa que a receptividade foi "boa".

Para este jovem, o Associativismo Estudantil engloba três componentes: a política, a cultural e a lúdica.

Em relação à primeira componente, o associativismo estudantil é "o primeiro passo para qualquer jovem se envolver na política e começar a ter opinião e parte activa na política". Como exemplo, apela à sua experiência pessoal. "A maior parte da minha formação política começou pelo associativismo estudantil. Por exemplo, no ano passado, 90 por cento dos estudantes que estavam na AE não tinham militância política. Neste momento, na minha lista, cerca de 80 por cento já têm como também já têm um novo olhar sobre as questões que envolvem toda a sociedade e o País". Quanto à componente cultural, "a AE da N.º 2 sempre procurou ter uma colaboração cultural activa com a administração da escola". Esteve sempre envolvida em todos os aspectos de convívio, deu apoio cultural aos estudantes que precisassem. Este ano, caso seja eleito novamente, João Gomes afirma que esta é uma componente "a ser melhorada". Para tal, releva que "estamos a pensar em reunir ex-presidentes de AE da escola e fazer um debate para procurar saber quais as diferenças do associativismo estudantil pós 25 de Abril, na década de 80, na de 90 até agora. E debater acerca dos novos horizontes".

Vânia Correia
Jornal Labor

Sermão

«Nonne cognoscent omnes, qui operantur iniquitaten, qui devorant plebem mean, ut cibum panis» (Salmo XIII-4)

«Porventura, não conhecem todos, os que devoram o meu povo, como um pedaço de pão?»


É sempre difícil começar um sermão, principalmente quando estamos seguros do que sentimos mas não de como iremos fazer passar a nossa mensagem. Decidi começar por esta simples passagem bíblica utilizada por Padre António Vieira no conhecido mas não absorvido "Sermão de Santo António aos Peixes", brilhante obra barroca em que as interrogações retóricas são constantes, em que se estabelecem paradoxos em torno dos modos de vida de uma época, em que o texto antitético ganha sentido perante a triste realidade que é a "raça humana", texto que por ser uma crítica assente em metáforas não se extingue em si mesmo mas serve de ensinamento para um povo, que passado quatro séculos contínua a ser comido, como o pão que, segundo Padre António Vieira, é o único alimento que se come sempre e continuamente, tal como os miseráveis da nossa nação que continuam a ser comidos.

Neste falado sermão, os peixes são repreendidos por se comerem uns aos outros, mas reparemos que até a maneira como servem de alimento é injusta, já repararam que é sempre o peixe maior que come o mais pequeno? E será que uma baleia se contenta com uma sardinha? Não, um poderoso come sempre muitos peixes pequenos, raia miúda que nasce para ser alimento e morre no estômago do opressor com o sentimento de missão cumprida. E depois de digerida, que dirá ela perante o tribunal divino? Será que Deus terá compaixão com quem teve medo de lutar com a dignidade de Luso, a força de Viriato e a coragem de D. Sebastião? É triste olhar para esta pátria, para este cherne que serve de alimento aos grandes, que se contenta em saciar o Império, que deixa a sua cultura ser absorvida e globalizada.

Que é feito da pátria? Que é feito do Rei? Quantas manhãs de nevoeiro se abaterão sobre as margens do Tejo até voltar D. Sebastião? E onde paira o nobre sapateiro Bandarra, que idealizou o V Império? Quantos "Concílios dos Deuses" serão precisos para que se permita levantar esta nação? Que viu perder as qualidades de Marte e Vénus para viver sobre o efeito de Baco, uma nação embriagada, tonta e perdida que já não se revê em si mesma.

Tal como citei na bíblia, por quanto tempo continuaremos a ignorar quem devora o nosso povo como pão? Não me acusem de radicalismo, ou como se vulgarizou chamar fundamentalismo, não me tomem por céptico, pois acredito no meu povo, VIII séculos de história não se perdem de um dia para o outro, mas convém estar sempre com os olhos bem abertos.

Vivemos em crise, quem ainda não ouviu isto? Mas porque será? Será mesmo por causa do falado défice? Será a conjuntura internacional e o temido terrorismo? "Tantas perguntas, tão poucas respostas..." (escrevia Brechet). Na verdade vivemos numa crise, mas de valores, estamos a perder a nossa identidade e a sermos absorvidos pelo mundo anglo-saxónico. É triste que tudo o que nos rodeie seja capital estrangeiro, é triste que os "Best-Sellers" sejam de J.K. Rowling e não de Saramago, é humilhante que se troque comida saudável por um King Burguer, é arrepiante ver alunos que não conhecem Miguel Torga serem bombardeados com horas e horas de inglês, é chocante sermos obrigados a participar em guerras que não são nossas, tudo porque estamos a ser absorvidos! Valerá a pena escrever este texto, quando sei que me irão tomar como tolo? "Tudo vale a pena se a alma não é pequena" (diria Pessoa).

Falo agora em tom de desabafo, sinto-me revoltado com a falsidade que envolve tudo quanto nos rodeia. Somos ignorados por todo o mundo e continuamos a servir quem nos oprime, continuamos a cultivar uma mentalidade em que o futuro é saber Inglês, estar actualizado sobre o "Dow Jones" e não perder as recentes novelas em torno da família real de Inglaterra.

Mas o que será feito do nosso rei? O que será feito da república? É preciso que exista uma reflexão profunda sobre a identidade nacional, é preciso repensar a pátria e o patriotismo para que nem mais um primeiro-ministro fuja do governo para se acomodar na Europa, para que voltem a haver governos com legitimação democrática, para que o nosso país não fique celebre por o governo não conseguir colocar cinquenta mil professores, para que a nossa pátria não seja falada lá fora por enviar barcos de guerra para vigiar activistas pela interrupção voluntária da gravidez e fundamentalmente para que não voltemos a ser arrastados pelos Estados Unidos e pela Inglaterra para uma guerra injusta, a guerra contra o terrorismo que não passa de um "show" bélico da luta desenfreada pelo petróleo. Um país que honra a sua pátria recusa-se a ver cair tudo que é património público, criando-se uma mentalidade falaciosa de que "tudo que é estado atrapalha".

Repensar a pátria e o patriotismo é termos orgulho no nosso passado e lutarmos por um futuro melhor, onde impere uma igualdade efectiva, onde haja liberdade para os comentadores expressarem as suas opiniões e onde os políticos não participem em "Realities Shows", onde as estrelas sejam os músicos, os poetas, atletas e pensadores e não figuras marginais de aspecto horrendo. Vamos repensar a nossa própria maneira de pensar a pátria.



"Nem rei nem lei, nem paz nem guerra,

Define com perfil e ser

Este fulgor braço de terra

Que é Portugal a entristecer –

Brilho sem luz e sem arder,

Como o que fogo-fátuo encerra."

(Fernando Pessoa)

João Gomes

Jornal Labor

Thursday, October 07, 2004

Cavaco Silva: Portugal pode estar "perante um caso muito, muito grave"



O ex-primeiro-ministro Aníbal Cavaco Silva lamentou hoje a saída de Marcelo Rebelo de Sousa da TVI e considerou que caso tenha havido censura, mesmo encapotada, Portugal está "perante um caso muito, muito grave".

Em declarações à Rádio Renascença, Cavaco Silva considerou que se a saída de Marcelo Rebelo de Sousa "configura uma forma de censura, ainda que encapotada, uma limitação à liberdade de opinião própria de uma democracia pluralista", então o país está "perante um caso muito, muito grave".

Afirmando que as análises que Marcelo Rebelo de Sousa fazia na TVI todos os domingos tinham "indiscutível qualidade", Cavaco Silva considerou ainda ter havido "um tremendo erro da parte dos que estão por detrás do seu afastamento".

O ex-primeiro-ministro salientou, no entanto, que "só o próprio pode esclarecer o que se passou".

O ex-presidente do PSD Marcelo Rebelo de Sousa anunciou ontem que cessou o comentário político que fazia no "Jornal Nacional" da TVI aos domingos, depois de uma conversa com o presidente do grupo Media Capital, Miguel Paes do Amaral.

A decisão de Marcelo Rebelo de Sousa ocorreu dois dias depois de o ministro dos Assuntos Parlamentares, Rui Gomes da Silva, ter estranhado o silêncio da Alta Autoridade para a Comunicação Social em relação aos comentários, que classificou de "ódio", feitos pelo ex-presidente do PSD aos domingos na TVI.

Tuesday, October 05, 2004

Political Compass






Caros camaradas,

Finalmente está disponível a versão portuguesa do famoso "Political Compass", que é um pequeno "teste" que se destina a colocar o inquirido num gráfico político, determinando o seu grau ideológico (esquerda-direita, libertário-autoritário).

Tendo sido eu, apoiante de José Sócrates, estranho bastante ter ficado colocado mais à esquerda que o próprio Manuel Alegre, que também efectuou o teste! Afinal também sou de esquerda! Sinto-me contente por me ter dado conta que afinal, durante a campanha para secretário-geral, tinha sido injustamente acusado de desvios direitistas. Citando Sérgio Sousa Pinto, em pleno congresso: "Camarada Manuel Alegre,desculpe, mas também sou de esquerda!".

Saudações Socialistas!

Wednesday, September 29, 2004

Muito trabalho em torno do partido.

Apresentação da candidatura de José Sócrates em São João da Madeira



Depois da clara vitória de José Sócrates nas eleições para secretário-geral, gostava de recordar a discussão publica da Moção Global de Estratégia em São João da Madeira.

Sunday, September 26, 2004

José Sócrates: mudança política no país começou esta noite



A primeira declaração política de José Sócrates como novo secretário-geral do Partido Socialista ficou marcada pela vontade de fazer do partido uma alternativa governativa. Sócrates desafiou os militantes do PS e considera que a noite de hoje marca o início da “mudança política de Portugal”.

José Sócrates quis deixar uma mensagem a todos quantos estão “desiludidos e que ambicionam mais para o país”. “O PS está pronto para fazer o que esperam que faça: liderar a mudança política em Portugal”, algo que, disse, “já começou esta noite”.

Para esta missão, o líder desafiou Manuel Alegre e João Soares a “travar as batalhas políticas necessárias”, no âmbito de um partido com unidade.

Sem avançar qual será o caminho a seguir no novo ciclo político, Sócrates prometeu tudo fazer para “estar à altura da confiança” que lhe foi depositada e “firmar o partido para que, quando chegar o momento, este possa substituir o Governo”.

O novo secretário-geral socialista salientou a “votação verdadeiramente histórica”, um sinal “claro de um partido vivo, bem ciente da sua responsabilidade e com vontade de se afirmar ao serviço dos portugueses”.

José Sócrates deixou ainda uma palavra de reconhecimento a Ferro Rodrigues, anterior secretário-geral do PS.

Na sua primeira declaração política no novo cargo, José Sócrates não respondeu a quaisquer perguntas dos jornalistas.

Sócrates obteve 78,6 por cento dos votos. Em segundo lugar ficou Manuel Alegre, com 16,6 por cento, e por último João Soares, com 3,9 por cento.

Publico

Tuesday, September 14, 2004

Sunday, September 12, 2004

Regresso de Férias...



Depois de um longo período de descanso dou continuidade à minha crónica semanal e vou aproveitar a oportunidade que me foi concedida para exprimir a minha opinião relativamente a três temas que agitam, neste momento, a sociedade.

Interrupção Voluntária da Gravidez

Em primeiro lugar gostava de comentar a vinda de uma embarcação da organização holandesa “Women on Waves” ao nosso país, que a convite de outras organizações que lutam pelos direitos da mulher decidiu disponibilizar a possibilidade de mulheres do nosso país se deslocarem até águas territoriais holandesas para efectuarem uma interrupção voluntária da gravidez. Este barco percorreu vários países que tal como Portugal ainda não dão liberdade às mulheres para que abortem e as obriga a terem um filho, mesmo que estas não tenham meios para assegurarem qualidade de vida ao ser humano que dão à luz. O mais caricato é que o nosso país foi o único que proibiu a entrada da embarcação e colocou dois barcos de guerra a vigiá-la, como se os profissionais de saúde que aí viajassem fossem terroristas ou um outro perigo para a nação.
É escusado referir que este acto reflecte não só a falta de cultura democrática da direita minoritária que governa o nosso país, como também é uma prova evidente que o reaccionarismo impera em alguns sectores da sociedade, que baseados em crenças religiosas e teorias políticas sobre o “direito à vida”, condenam a entrada do barco em Portugal e mais importante do que isso o relançamento do tema da Interrupção Voluntária da Gravidez. O povo do nosso país, não pode permitir que os direitos das mulheres voltem a ser referendados, os direitos individuais têm que ser consagrados pela lei pois o aborto é uma opção livre e individual de cada casal. É inaceitável que o governo português não tenha tomado uma posição forte no caso do petroleiro “Prestige” e que agora o Dr. Paulo Portas envie fragatas para vigiar activistas dos direitos humanos e profissionais do sector da saúde.

Kerry presidente!

Aproximam-se as eleições nos Estados Unidos da América e a sociedade civil americana encontra-se completamente dividida, de um lado os apoiantes de George W. Bush que, numa crença sebastianista, continuam a defender a intervenção militar no Iraque mesmo depois de se ter descoberto que não haviam armas químicas e biológicas, a ignorar as palhaçadas proferidas pelo Sr. Presidente e a ignorar a crise económica e financeira que abala o país. Do outro lado encontram-se os apoiantes de John Kerry, que vêm nele uma possibilidade de mudança das políticas neo-liberais e de cariz Imperialista levadas acabo pelo “clã Bush”.
Para que não restem duvidas sobre o trabalho prestado por George W. Bush ao seu país, basta referir que o “Mr. President” aumentou 9,4% as despesas militares e de segurança interna, em detrimento dos programas sociais que viram os seus fundos reduzidos, sendo que reduziu 3,2% o investimento na educação e 7,2% na protecção ambiental, por exemplo. A juntar a isto podemos referir que pelo terceiro ano consecutivo o número de americanos a viver abaixo do limiar da pobreza aumentou em 1,3 milhões e que actualmente estima-se que 12,5% da população americana viva na pobreza.
Kerry será um novo folgo para o recuo das políticas neo-liberais, para implantação de novas políticas sociais e económicas e para uma melhor prestação no campo da diplomacia. Força John Kerry!


Porque apoio José Sócrates

O nosso país vive actualmente uma situação política bastante complicada, pois temos um primeiro-ministro que governa sem legitimidade democrática para tal, um Presidente da República desprestigiado perante a população, uma crise económica que não tem retoma à vista e um governo que se mostra desorientado em todos os sectores. Bastava ouvir o discurso de tomada de posse do Dr. Santana Lopes para perceber que este se encontrava completamente aos papéis e observar as trocas nas secretarias de estado em plena tomada de posse dos secretários de estado para tomarmos ideia da desorganização que reina nos nossos governantes.
Perante tal cenário o Partido Socialista tem, obrigatoriamente, de assumir uma postura de combate à política da direita extremista e minoritária que em coligação com os ditos sociais-democratas governa este pequeno jardim à beira-mar plantado. A esquerda contemporânea tem que dar respostas de governação credíveis para evitar que o nosso país se continue a afundar num role de políticas erradas e prejudiciais.
Todos os que acusam José Sócrates de desvios centristas, devem rever as suas posições e reflectir sobre o percurso político do mesmo enquanto responsável pelos direitos do consumidor e ministro do ambiente. Para além disso, devem ter em mente que o projecto “Esquerda Moderna” é um projecto de governação à esquerda que engloba medidas positivas para o país, tendo sido exemplarmente redigido por um dos jovens mais intreventivos do partido (Sérgio Sousa Pinto).
É de salutar a importância, para a democracia partidária, da existência de vários candidatos e pontos de vista diferentes sobre a sociedade, dentro do próprio partido. O que não acho admissível é que colem o rótulo de “centrista” a um militante do PS só por este apoiar José Sócrates, eu apoio convictamente o que para mim será o melhor secretário-geral do partido e não admito que ninguém detenha monopólios da esquerda.



João Gomes
Jornal O'Regional

A política autárquica em São João da Madeira



Na semana passada li, neste mesmo jornal, um artigo do Sr. João Borges que demonstrava o sentimento geral da população, da nossa cidade, relativamente aos três anos do executivo de Castro Almeida. Os habitantes de São João da Madeira, nas últimas autárquicas, foram invadidos por uma campanha populista, agressiva e milionária por parte do PSD, que lançou um candidato de Escapães, encheu a cidade de cartazes e transpareceu aos eleitores a ideia de que seria o melhor presidente da câmara para São João da Madeira, anunciando que este traria uma maior dinâmica à cidade.

Qual será o sanjoanense que não se lembra dos cartazes colocados no rio a dizer que aí iria nascer uma praia fluvial? Ou os colocados na Praça Luís Ribeiro que anunciavam que iria ser feita uma casa da juventude em São João da Madeira? E os colocados em zonas menos centrais da cidade que diziam: “Aqui também é São João da Madeira”? Podemos também relembrar um panfleto da JSD que prometia a realização de uma feira do livro no concelho, a criação do cartão-jovem municipal, a reconstrução do cinema, a construção de uma “casa da música”, a criação da figura do “jovem criador sanjoanense” e a promessa de apoio aos “jovens empreendedores sanjoanenses”.

Podemos facilmente concluir que estas promessas não passaram disso mesmo e que reina um sentimento de desilusão na população da nossa cidade, que foi manifestamente traída por uma jogada de “marketing político” muito bem apadrinhada pelo poder económico. Sr. João Borges, partilho da sua tristeza ao observar a política autárquica de inaugurações de obras de fachada e arrepia-me constatar que temos um executivo camarário tão afastado dos cidadãos.

Por outro lado, discordo que toda a oposição de São João da Madeira seja “completamente amorfa e inactiva”. O Partido Socialista tem feito uma oposição combativa, construtiva e responsável, como mais nenhum partido. Em três anos de oposição o PS marcou a agenda política da cidade e soube construir um projecto e uma equipa que por si só são uma alternativa inovadora e credível de gestão autárquica. Gostava de lembrá-lo da visita de deputados do PS ao concelho para manifestarem e procurarem soluções para o desemprego e o agravamento das condições sociais e económicas em São João da madeira (Outubro de 2003), o apoio manifestado pelo partido ao Instituto de Línguas que viu a sua actividade posta em causa pela autarquia (também em Outubro de 2003), a denuncia da recusa de Castro Almeida em entregar a listagem do “pessoal político” contratado pela autarquia (Maio de 2003), o colóquio com Augusto Santos Silva e Filipe Neto Brandão sobre a “situação política actual” (Julho de 2003), a questão das áreas metropolitanas em que o PS defendeu sempre a integração da cidade em Aveiro (sendo que a cidade vai ficar 6 anos sem receber subsídios por Castro Almeida ter optado pelo Porto, juntando o facto de personalidades do PSD como Ribau Esteves e Marques Mendes defenderem Aveiro), o Dia do Jovem Socialista que só no torneio de futebol contou com a participação de quase 70 jovens do concelho (26 de Junho de 2004) e a excelente campanha desenvolvida pela concelhia nas eleições europeias, que acabou por ser expressa nos resultados eleitorais em que o PS obteve 52% da votação em São João da Madeira.

O Partido Socialista não sofre de nenhum sintoma de “inércia” nem está “encurralado” em nenhum “pequeno espaço” que ele próprio demarcou. Pelo contrário, encontra-se empenhado em construir uma candidatura autárquica combativa e dinâmica, que inove ao serviço dos cidadãos. Rejeitamos firmemente o populismo e a política das promessas falhadas, dos aspirantes a governantes que com gel na cabeça e bem apresentados percorrem as ruas da cidade (apenas em vésperas das eleições) para prometerem “mundos e fundos”. Sr. João Borges, se concorda com a nossa visão da política e acredita que é possível lançar uma candidatura séria à autarquia da nossa cidade, convido-o a si e a todos os sanjoansenses a juntarem-se ao Partido Socialista, para juntos elaborar-mos um projecto jovem e inovador para a São João da Madeira.


João Gomes
Jornal Labor

Thursday, September 02, 2004

Apelo a Santana Lopes para que "dê ordem para que o barco possa atracar em Portugal"

O secretário-geral da Juventude Socialista, Pedro Nuno Santos, anunciou hoje que esta estrutura partidária vai ceder um barco para transportar as mulheres portuguesas que queiram visitar o navio da associação holandesa Women on Waves. A JS apela "ao primeiro-ministro para que revele bom senso e tolerância e dê ordem para que o barco possa atracar em Portugal".

Durante uma conferência de imprensa realizada em alto mar, a poucos metros do navio holandês, Pedro Nuno Santos contestou a proibição do Governo português à entrada da embarcação da Women on Waves e prometeu apoiar as mulheres que queiram subir a bordo do barco.

Nos próximos dias, a JS vai "disponibilizar uma embarcação para que as mulheres que queiram visitar o barco possam fazê-lo", de modo a contrariar o "conservadorismo obscurantista que a direita quer autoritariamente impor ao país".

A viagem de hoje, que integrou elementos da JS e vários jornalistas, não teve êxito na tentativa de chegar ao barco holandês, devido à forte ondulação que se verificava.

Na conferência de imprensa, Pedro Nuno Santos criticou a "decisão intolerante e autoritária tomada pelo Governo português", que se baseia numa "fundamentação jurídica muito frágil" que "pretende dificultar o debate sobre a situação triste vivida pelas mulheres em Portugal". Recordando que a coligação PSD/CDS-PP já havia recusado uma proposta de um novo referendo sobre a matéria, o líder dos jovens socialistas considerou que "o Governo está a ter um comportamento irresponsável, insensível e intolerante".

A JS acusou ainda a JSD de se estar a deixar "arrastar pelo fanatismo do PP". "É inadmissível que as autoridades do nosso país impeçam o barco da Women on Waves de atracar na nossa costa, como se fosse uma qualquer embarcação que transporta resíduos tóxicos e perigosos e como se Portugal fosse um país isolado e fechado ao mundo".

O líder da JS exigiu que o "Governo português cumpra a legislação sobre educação sexual em meio escolar e que promova a instalação de máquinas com preservativos nas escolas", bem como a realização de um novo referendo sobre esta matéria.

Aquando da aproximação do barco português ao navio holandês, Pedro Nuno Santos revelou que o momento era "constrangedor, porque o país obriga o barco a estar tão longe da costa", como se nesse se encontrasse "um grupo de criminosos". Para o secretário-geral da JS, também a vigilância do navio holandês pela corveta "Batista de Andrade" é "incompreensível e exagerada".

Na breve troca de palavras com as activistas, o líder da JS pediu "desculpa por esta situação, que é uma vergonha para Portugal". Sobre novas acções da JS, Pedro Nuno Santos revelou que está a ser desencadeada uma estratégia de "pressão" junto de outras instituições da sociedade civil para que o "Governo recue na sua decisão".

"Parecemos um país de Terceiro Mundo, parecemos a Coreia do Norte", desabafou o responsável da Juventude Socialista, que pagou cerca de 1500 euros pela viagem de barco com uma comitiva de jornalistas portugueses.

Público

Saturday, August 28, 2004

Governo recusa entrada do "barco do aborto" em águas portuguesas



Esta notícia é o espelho da vergonha que inunda o nosso país! Só mostra que temos o governo de cariz mais fascista desde o 25 de Abril. Contra a hipocrisia organizada temos que responder com a solidariedade dos oprimidos! Aborto... o crime está na lei!

O Governo deu ontem orientações ao "Barco do Aborto" para que não entre em águas territoriais portuguesas, alegando motivos de "respeito pelas leis nacionais" e questões de "saúde pública".

O secretário de Estado para os Assuntos do Mar, Nuno Fernandes Thomaz, disse à Lusa que "as autoridades portuárias e de tráfego comunicaram hoje [ontem] em tempo útil ao barco, através do seu capitão, ao armador e ao cônsul da Holanda que este não deverá passar em mar territorial português".

O navio holandês, com clínica ginecológica a bordo, fornece a pílula abortiva em alto mar (águas internacionais) e deverá chegar a Portugal domingo, a convite de quatro associações portuguesas.

A mesma fonte disse que a orientação do Governo tem como objectivo fazer respeitar o quadro jurídico português, já que, para Nuno Fernandes Thomaz, sendo Portugal um país soberano, "nenhum grupo, seja em que circunstâncias for, pode desafiar a ordem jurídica portuguesa ou incitar a actos contra a lei" portuguesa.

"É uma questão de legalidade e não de moralidade. Aceitar que terceiros viessem violar a nossa lei tornaria para nós mais difícil exercer a autoridade com os portugueses", sublinhou.

O segundo motivo apresentado pelo secretário de Estado para os Assuntos do Mar prende-se com uma questão "de saúde pública", uma vez que no navio pretende-se utilizar medicamentos proibidos pelas autoridades portuguesas.

"Sendo a pílula [abortiva] proibida em Portugal, se tencionam administrá-la significa que a trazem [a bordo]", justificou Nuno Fernandes Thomaz, acrescentando: "Por esse motivo [o barco] deverá ficar em águas internacionais".

Por outro lado, para o Governo, o barco é uma unidade de saúde móvel não certificada pelas autoridades de Saúde portuguesas. Por esse motivo, acrescentou o secretário de Estado, o barco pode pôr em risco a vida das mulheres que a ele recorram, apesar de ter sido verificado pelas autoridades de Saúde holandesas.

"O barco vem exercer actividades de saúde que têm de ser devidamente regulamentadas [pelas autoridades portuguesas], senão poríamos em risco a saúde pública. Consideramos que a passagem do navio não é inofensiva", reforçou o secretário de estado dos Assuntos do Mar.

A iniciativa de trazer o barco é da organização holandesa "Women on Waves", que disse quarta-feira ter autorização para atracar em vários portos nacionais, apesar de não revelar quais. O Governo desmentiu. "Isso é falso. A única coisa que é verdade é que hoje [sexta- feira] a associação requereu autorização para atracar no porto da Figueira da Foz", disse.

O Instituto Portuário de Transportes Marítimos (IPTM) tutela vários portos nacionais, na dependência directa do Ministério da Defesa e do Mar, sendo responsável pela emissão de licenças de acostagem.

A delegação Norte do IPTM tutela portos entre Viana do castelo e Vila do Conde, o Centro engloba a Figueira da Foz, Nazaré e Peniche e a delegação Sul os portos de Portimão e Faro. Os restantes - Leixões, Aveiro, Lisboa, Setúbal e Sines - dispõem de administrações próprias, vinculadas ao Ministério das Obras Públicas.

Segundo o secretário de estado, noutros países (Irlanda e Polónia, onde o aborto é proibido) este "golpe publicitário" originou situações de conflito "muito complicadas".

"Portugal hoje faz prevalecer a sua lei em mar territorial português, enquanto este barco vai ficar em águas internacionais", reforçou. "Com isto o Estado dá como encerrado este episódio", concluiu.

A organização Women on Waves recordou ontem que a entrada do navio nunca foi negada em nenhum dos portos para onde se deslocou, nomeadamente quando navegou até à Irlanda e à Polónia.

"O navio obedece a todas as regulamentações internacionais e tem a sua documentação em ordem", defenderam ontem os responsáveis pela organização.

Thursday, August 26, 2004

Festival Geração JS - Açores



A estreia do festival promovido pela Juventude Socialista foi excelente. No primeiro dia a banda vencedora do concurso "A tua banda" Hempty Logic abriu de forma efusiva para os Volcanic e Moonspell, mas no segundo dia é que o verdadeiro espectaculo chegou com uma espetacular performance por parte de Gabriel o pensador, depois de terem tocado os Stream e os Fingertips. Uma nota também para o trabalho dos Dj's Rob di Stefano e Marc Hughes que mantiveram a festa acesa pela noite dentro.




Versao final da Moção Global de Estratégia



Versão
integral da Moção Global de Estratégia "Esquerda Moderna"


Tuesday, August 24, 2004

Sunday, August 22, 2004

Quem escuta as populações?



Esta sondagem, presente no site www.oregional.pt, aos cidadãos de São João da Madeira, mostra claramente que a maioria da população preferia fazer parte da Área Metropolitana de Aveiro e que o executivo camarário agiu claramente contra a vontade dos cidadãos da nossa cidade. Espero que para o próximo ano todos os sanjoanenses mostrem um cartão vermelho à actual administração autárquica!

Um facto, também, bastante revelador da péssima opção tomada pelo executivo de Castro Almeida é o facto de São João da Madeira ficar arredado durante 6 anos de subsídios por decidir integrar a Área Metropolitana do Porto.

Saudações !

Jovens Socialistas Mantém-se Neutrais para Preservarem Autonomia em Relação ao PS



O Pedro Nuno está a ter uma posição bastante correcta sobre este assunto. É urgente que se debatam ideias e propostas concretas para a juventude e para o nosso país e não nomes. Esta é uma verdadeira JS que inquieta!

A Juventude Socialista (JS) não apoia oficialmente nenhum dos três candidatos ao cargo de secretário-geral do PS, preservando uma posição de neutralidade até ao final do próximo congresso dos socialistas, no início de Outubro.

O recém-eleito líder da JS, Pedro Nuno Santos, garante em declarações ao PÚBLICO que a JS "não vai envolver-se" na campanha para a eleição do próximo secretário-geral do PS, remetendo-se apenas a uma tarefa de "contribuição para o debate político" e de apresentação de "propostas concretas". A JS está neste momento a redigir um documento com diversas reivindicações que pretende apresentar às três candidaturas no início do mês de Setembro.

De acordo com Pedro Nuno Santos, a JS é uma "organização autónoma" do PS e "assim deve continuar". Ao não tomar uma posição de apoio a qualquer um dos candidatos, a JS pretende "preservar essa autonomia", assim como "as boas relações" com o futuro secretário-geral do partido.

"Achamos que não nos devemos envolver, tal como não queremos que o PS se envolva nas questões internas da JS", sublinha o secretário-geral da JS, acrescentando que é dessa forma que a JS "encara a sua autonomia" relativamente ao PS. Na sua opinião, o apoio formal a qualquer um dos candidatos poderia vir a suscitar divisões internas na JS, uma vez que "não existe unanimidade" quanto ao melhor candidato.

Instado a declarar se apoia a um título pessoal algum dos candidatos, Pedro Nuno Santos confessa que nutre preferência por um candidato, mas prefere não o revelar pois "é muito difícil não confundir a minha posição pessoal com a posição da própria JS".

Pedro Nuno Santos realça que a questão da neutralidade "foi debatida" no último congresso da JS, realizado na cidade de Guimarães em Julho passado, onde foi eleito como o novo líder da estrutura, sucedendo no cargo a Jamila Madeira. "Acho que era consensual" a posição neutral, afirma.

O candidato a secretário-geral da JS derrotado no referido congresso de Guimarães, Luís Filipe Pereira, encara a posição de Pedro Nuno Santos com "normalidade". Sublinha, no entanto, que teria sido "interessante" que os candidatos do PS tivessem sido chamados a uma Comissão Nacional da JS para serem ouvidos sobre as posições de cada um, não só relativamente à JS mas também acerca do que "cada um deles pensa para o país, para a Europa e para o mundo". Luís Filipe Pereira entende que isso "não prejudicaria a autonomia da JS".

Em 1992, o então secretário-geral da JS, António José Seguro, apoiou a título pessoal a candidatura de António Guterres a secretário-geral do PS, numa disputa com Jorge Sampaio pela liderança do partido. António José Seguro, actual líder parlamentar dos socialistas, explicou ao PÚBLICO que na altura se reuniram os órgãos da JS para decidir se os seus membros se deveriam manter "neutrais" ou "participar activamente" na eleição do novo líder do PS. "Estávamos todos nessa última lógica", afirma Seguro, considerando que essa posição "não enfraqueceu" a JS.

A maioria das estruturas distritais da JS subscrevem, contudo, a posição neutral defendida pelo secretário-geral. Não obstante, pelo menos as distritais da JS de Coimbra, Açores e Castelo Branco agendaram a realização de comissões políticas para as próximas semanas, das quais poderão resultar declarações de apoio a um dos candidatos.

Gustavo Sampaio e Catarina Pereira
PUBLICO

Saturday, August 21, 2004

Porque apoio José Sócrates



Subscrevo por inteiro as palavras de António Costa e declaro o meu apoio a José Socrates na sua luta por uma Esquerda Moderna ao serviço dos cidadãos e da democracia.

Devemos evitar neste novo ciclo repetir as lutas fratricidas que dilaceraram o partido em anos anteriores. Devemos, por isso, com espírito de unidade e humildade, procurar identificar aquele que está nas melhores condições de unir o partido e contribuir para a sua afirmação na sociedade. O José Sócrates é quem está nas melhores condições para o fazer. E está por mérito próprio.

Não só por ser um bom comunicador, o que, entendamo-nos, é uma qualidade essencial numa sociedade democrática em que se pretende uma cidadania activa. Sobretudo, pela capacidade que revelou na formulação de políticas e pela determinação com que as implementou, enfrentando com coragem interesses económicos, no ambiente ou na defesa do consumidor, tabus, na descriminalização do consumo, ou pressões populistas, na co-incineração.

Também na oposição, nos momentos muito difíceis que tivemos de enfrentar nestes últimos dois anos, revelou sempre combatividade e espírito solidário. No Parlamento, na televisão, em todas as frentes do combate político.

Estive com o José Sócrates estes dois anos na primeira linha de um combate político duríssimo que travámos sob a liderança de Eduardo Ferro Rodrigues. Continuarei a seu lado neste novo ciclo do mesmo combate.

António Costa

Wednesday, August 18, 2004

Um combate de futuro



Expresso - 14/08/2004

Um combate de futuro
Mário Soares


É SALUTAR, no interior de um partido responsável, que se discutam, em público, as ideias orientadoras do seu activismo e as estratégias a seguir - para a resolução dos graves problemas do país - quando se pretende que os militantes elejam, em consciência, o líder do partido.

É salutar: porque é mobilizador do militantismo; e porque abre o partido à sociedade. O debate - e quanto mais amplo for, melhor - uma vez publicitado, desperta a curiosidade e atrai novos quadros, activistas, simpatizantes e competências.

Sempre que num partido se discutem, seriamente, os problemas e se redefine um «novo rumo» de acção - esse partido dá um salto em frente, fica mais forte, descobre um novo dinamismo. Pelo contrário: o unanimismo, o «politicamente correcto» e o silêncio, são factores de atrofia partidária, de predomínio dos aparelhos e, finalmente, de fraqueza.
Por isso, considero feliz que se tenha aberto uma janela de discussão política séria no PS - e nos meios políticos e mediáticos interessados - a propósito da eleição do secretário-geral que agora compete, como se sabe, aos militantes de base, por voto directo e secreto. Qualquer que seja o resultado da eleição, o PS - e os seus eleitores - sairão mais esclarecidos e reforçados.

Um tal debate é tanto mais de louvar, quanto desde há uns anos - não só em Portugal, de resto - os partidos da Esquerda e da Direita, têm vindo, gradualmente, a perder militantismo e a substituir a discussão das ideias pela dos interesses, das «carreiras», da imagem e do «fulanismo», a todos os níveis partidários. Os partidos têm vindo a deixar de congregar os seus militantes, em função das ideologias e dos projectos político-sociais-económico-culturais que defendem para a transformação dos respectivos países - e o bem-estar geral dos cidadãos - para se tornarem uma espécie particular de empresas clubísticas, com os seus adeptos, os seus rituais, o seu «marketing», os seus «slogans» e os seus funcionários. Tornam-se, assim, demasiado parecidos, criando entre si, da Direita à Esquerda, um espaço pantanoso que tem a ver com interesses egoístas que lhes são comuns ou, pelo menos, criam cumplicidades. Suscitando, do mesmo passo, um certo desinteresse pelos partidos, pela política e pelos políticos...

A vaga do neoliberalismo

Ora, o pensamento e as ideias precedem - ou devem preceder - sempre a acção. Por isso, Antero de Quental (que aliás foi, com José Fontana, um dos fundadores do Partido Socialista, em 1875) perguntava, quando do encerramento forçado das Conferências do Casino, numa célebre carta dirigida ao duque d’Ávila e Bolama, então presidente do Governo: «Mas, Ilustríssimo Senhor, será possível viver sem ideias?» Pergunta pertinente, que continua a interpelar-nos.

É certo que o colapso do comunismo, a globalização das economias, bem como as novas tecnologias da informação, deram origem, em condições históricas determinadas, à vaga avassaladora do neoliberalismo. Mas não foi o fim da História, como chegou a profetizar Francis Fukiama.

Essa vaga, além de outras consequências, mais ou menos negativas, provocou, em muitos partidos europeus da Internacional Socialista, um fenómeno mimético a que Donald Sassoon chamou «o neo-revisionismo» - ou seja: o endeusamento do mercado, a desistência da crítica do capitalismo, sobretudo, nesta fase perversa, financeiro-especulativa e a adopção da ideia de que o socialismo representa tão-só a coexistência do capitalismo com a justiça social. A transformação da sociedade, para melhor, e a igualdade de oportunidades, para todos, foram temáticas que desapareceram do ideário socialista...

Nos últimos lustros do século passado - e nestes primeiros anos do séc. XXI - o socialismo europeu perdeu muito do seu poder de atracção e da sua acutilância. Em 15 países da União Europeia, estiveram no poder 11 partidos socialistas e nem por isso o socialismo avançou. Foi uma ocasião perdida! Adoptando ou não a chamada 3ª via, de Tony Blair, hoje em total descrédito, o socialismo europeu partilhou a tese da competitividade obtida à custa da flexibilidade no trabalho (leia-se, desemprego), desistiu completamente da planificação económica e do pleno emprego, assistiu, impávido, ao desmantelamento do Estado, promoveu a privatização de sectores económicos estratégicos fundamentais e a sistemática delapidação do património público, aceitou que se desprestigiasse a noção do serviço público e recuou na defesa do modelo social europeu, com grande prejuízo para a população mais carecida. Os direitos e garantias dos trabalhadores, consagrados por mais de um século de lutas sociais, também começaram a ser fortemente cerceados.

Mas a história, às vezes, escreve direito por linhas tortas. Os resultados da vaga neoliberal estão hoje à vista. São devastadores para o mundo. Além de guerras unilaterais - como a do Iraque - provocadas por grandes interesses inconfessáveis (o petróleo e o gás natural, hoje; amanhã, a água potável), o aumento da pobreza no mundo, o fosso cada vez mais intolerável entre pobres e ricos, a desordem ecológica, de gravíssimas consequências, a proliferação de pandemias anteriormente erradicadas - como a tuberculose - ou a incapacidade de deter a progressão da sida, a criminalidade internacional organizada e impune - o certo é que o capitalismo, com a vaga neoliberal, entrou numa deriva extremamente perigosa, sem regras nem princípios éticos, dando lugar a uma enorme crise de civilização.

John Maynard Keynes (1883-1946), inspirador das políticas intervencionistas que deram origem, na Europa Ocidental, a trinta anos «magníficos» de progresso e contínuo bem-estar social, voltou a ser lembrado e reconhecido. Alguns economistas - e dos mais reputados - falam mesmo de neokeynesianismo como um horizonte provável do futuro.

A reacção ao neoliberalismo - e às suas injustiças - começou a fazer-se sentir. O fenómeno novo da cidadania global - expresso pelos altero-mundialistas em grandes manifestações, que ocorrem por toda a parte - veio proclamar que «um outro mundo é possível», mais justo, mais solidário e melhor. Uma nova utopia? Talvez. E porque não? Há que reconhecer, que as utopias - apesar dos crimes praticados em seu nome e dos impasses trágicos a que, algumas vezes, conduziram, como o comunismo - fizeram avançar o mundo. Às vezes, indirectamente, é certo. Mas como dizia António Gedeão: «é o sonho que comanda a vida».

Também não deixa de ser uma ironia da História, bastante paradoxal - e motivo de reflexão - que quinze anos após o colapso do comunismo, seja uma potência dita comunista, a China, apesar das suas terríveis contradições internas, que está, no plano económico, a crescer espectacularmente e em condições de vir a pôr de joelhos a hiperpotência económica mundial, os Estados Unidos, não obstante ainda, para muitos países subdesenvolvidos, globalização e americanização serem uma e a mesma coisa...

O mundo é muito vasto, imprevisível, complexo. É o que o torna, de resto, apaixonante. Não deve ser visto unilateralmente. Além da China, a Índia, a Rússia, a África do Sul, o Mundo Árabe, o Brasil e a Ibero-América, têm, nos próximos anos, uma palavra importante a dizer, como, obviamente, no mundo desenvolvido, o Japão e a União Europeia (infelizmente, hoje, tão omissa).

A economia não é tudo

O impasse da Organização Mundial de Comércio, em Cancun, não foi inútil. Em Genebra, há semanas, deu-se um pequeno passo, porém com algum significado. As pessoas começam a compreender que a mão invisível do mercado não faz milagres e, entregue a si própria, gera tremendas injustiças. Tem, por isso, de obedecer a regras éticas e políticas, sem o que caminha para um manifesto desastre. Por outro lado, a economia - sem mais - não é tudo. Longe disso. A vontade das populações - as suas legítimas reivindicações - devem ser ouvidas, a menos que queiramos deixar de viver em «sociedades abertas», com ensinava Karl Popper. E em permanente - e cada vez mais grave - conflitualidade.

Portugal, neste contexto, passou, nos últimos anos, de «um bom aluno europeu» - com excelentes perspectivas - para um país mergulhado numa crise complexa e de que se não vê saída fácil. Tornou-se um país opaco, inseguro, triste. Nos últimos dois anos, em que a Coligação de Direita esteve no poder, a crise financeira, herdada do segundo guterrismo (depois da saída de Sousa Franco), transformou-se numa crise económica, social, política, cultural, até psicológica. Uma crise geral de confiança. A conflitualidade alastrou, na proporção do aumento do desemprego e na medida em que a Ciência e a Inovação não dispõem de verbas necessárias e os horizontes se fecharam, sobretudo para a juventude. Trata-se, porventura, da pior crise que Portugal viveu desde o 25 de Abril.

A circunstância do PS, como principal partido da Oposição, abrir uma ampla discussão quanto ao seu posicionamento estratégico - e às suas eventuais alianças à Esquerda - de modo a estabelecer uma alternativa de poder à Coligação de Direita, que seja credível e sustentada, é em si mesmo, um sinal positivo e encorajante. Significa que, num mundo em que tudo está a mudar, aceleradamente, o PS - ou pelo menos algum PS - está a compreender os sinais do tempo novo que aí vem, necessariamente, e a lutar por uma nova arrancada para Portugal, de paz, de progresso, de justiça social, de bem-estar e de solidariedade.

Rejeitando as areias movediças do Centrão e reposicionando-se na Esquerda dialogante e plural, que represente o futuro.

É, por isso, que as candidaturas a secretário-geral do PS, que se situam à Esquerda, quaisquer que sejam os resultados que obtenham, representam um combate de futuro, que importa continuar. O único, de resto, que vale a pena travar.

Expresso - 14/08/2004




Tuesday, August 17, 2004

A crise dos partidos e a emergência de uma outra política



O texto que tomei a liberdade de publicar é uma moção aprovada no ultimo congresso distrital do Partido Socialista de Aveiro e deve servir para todos os socialistas abrirem os olhos, num altura crucial como a que estamos a viver no PS.

A ideologia neoliberal rege o pensamento e a prática dos povos na chamada civilização ocidental contemporânea. Os partidos, da direita à esquerda, e sobretudo os partidos de poder transformaram a política na mais dura expressão dessa mesma ideologia, bloqueando a capacidade de construir novas respostas, adequadas à complexidade e aos graves problemas da profunda crise civilizacional da actualidade. A auto-crítica e a ousadia em encetar novos caminhos do “fazer política” é um passo urgente. Os partidos têm de assumir as suas responsabilidades históricas. Têm de reactualizar a democracia. Se o não fizerem, a descrença e o descrédito acentuar-se-ão a um nível letal e sem retorno. Será inviabilizada a afirmação de ideais que ajudem a Humanidade a superar os múltiplos becos sem saída a que este modelo de sociedade industrializada e neoliberal a está a conduzir.

Os partidos do socialismo democrático têm contribuído para o avolumar da massa politicamente indiferenciada dos agentes da ideologia dominante. Têm servido a lógica do totalitarismo de mercado, em quase todos os campos da acção humana. Têm-se descaracterizado ao colocar os seus referenciais do socialismo utópico e do marxismo na prateleira poeirenta do esquecimento e da inutilidade dos velhos ícones identitários. Não os reproblematizam, não os reintegram na edificação de uma nova e actual grelha interpretativa da realidade, que lhes permita edificar uma alternativa da esquerda, não só viável mas, sobretudo galvanizadora de vontades, transformadoras do mundo decadente e frustrante em que todos vivemos. É tempo de cumprirmos esse desígnio histórico da nova esquerda e do novo Partido Socialista!

Imbuídos de um pragmatismo imediatista e de um feroz individualismo egocêntrico, demasiados políticos têm prostituído a política aos poderes económicos, financeiros e mediáticos, numa crescente promiscuidade com os seus próprios interesses pessoais, tantas vezes travestidos de um aparente e ilusório interesse público. O resultado está à vista: uma sociedade mais injusta, cinzenta, castrante, confusa, onde o humano se esbate, o oportunismo campeia e os valores se diluem; uma sociedade em que uma globalização avassaladora vai nivelando por baixo a cultura, o sentimento da dignidade e da liberdade humana; uma sociedade em que os movimentos de resistência e de contestação passam cada vez mais ao lado do terreno da intervenção partidária.

Estamos a construir um partido de personalidades e não de militantes. De notáveis que se servem das comunidades, que neles acreditam e os notabilizam, obtendo em troca a indiferença, o desprezo e a esterilidade de ideias e de projectos que resolvam os principais problemas de requalificação da vida dessas mesmas comunidades.

Negoceia-se a partilha dos mais diversos poderes, estabelecem-se alianças de conveniência, de que resulta uma coesão baseada na constelação circunstancial de pequenos ou grandes apetites individuais. Instrumentalizam-se as pessoas e os procedimentos, à margem de qualquer projecto colectivo, alicerçado em ideais etico-políticos, estruturantes de um modelo de sociedade que se pretenda construir. Substituem-se a participação, o espírito de equipa, a dinâmica de grupo, a partilha de funções e responsabilidades, pela táctica do predador num universo regido pela lei do mais forte.

A criatividade, a ousadia, a irreverência e a dialéctica, são substituídas pela mediocridade, o seguidismo, a imitação, a hipocrisia e a retórica. A eficácia na consecução de quaisquer objectivos vale por si mesma, independentemente da avaliação criteriosa e colectiva desses mesmos objectivos, em função de princípios e valores que consubstanciem uma nova Utopia da esquerda.

O Partido Socialista, em Aveiro, tem agora uma liderança de projecto, que pretende combater este deslizar pantanoso para o grau zero da política. O Partido Socialista tem de imergir na sociedade real para, no terreno em que a história acontece, equacionar os caminhos do futuro. Tem de se assumir como organização mobilizadora de todos os homens e mulheres que ainda aspiram a tomar nas suas mãos o poder de gerir o próprio destino comunitário. Os dirigentes partidários, que sairão deste congresso da inovação, terão a oportunidade única e o desafio da reaprendizagem da nova política. Terão de pôr em marcha um processo generalizado de conscientização do estado da sociedade, nas várias frentes onde a crise avança pelo quotidiano das relações humanas, no confronto com as diversas condicionantes, económicas, culturais, ambientais, sociais e políticas. Terão de levar a imaginação ao poder. Uma imaginação livre e comprometida com a luta tenaz pela resolução dos reais problemas que minam o direito a uma vida mais saudável, justa e solidária. Terão de reinventar um Partido Socialista interventivo, exemplar, que arrisque na concretização prática de uma democracia plena, que se traduza numa efectiva equidade no exercício de direitos, deveres e oportunidades por toda a população. Uma democracia que não seja uma mera capa formal, a coberto da qual os privilegiados do sistema servem os poderes dominantes, servindo-se dos que lhes estão irremediavelmente subjugados.

Para que tal seja possível, a nova equipa terá de trabalhar mais na mobilização para o debate de ideias e projectos. Terá de cultivar uma atitude de desprendimento dos interesses e expectativas pessoais, reforçando o empenhamento com a sociedade, envolvendo-se com os que estão no terreno, articulando esforços para que o partido seja uma vanguarda crescente de militantes activos na construção de um ideal colectivo, onde o socialismo volte a fazer sentido, apontando com clareza e determinação qual a sociedade que queremos e como deveremos actuar para a edificarmos nos diferentes momentos e espaços da intervenção quotidiana.

O problema já não é distinguirmo-nos do PSD. O problema é distinguirmo-nos de nós próprios! O problema já não é como chegar novamente ao poder. O problema é como arranjar um futuro digno para este Distrito e para este País! O problema já não é a quem distribuir os cargos políticos. O problema é o que fazer com os cargos distribuídos! O problema já não é tomar a decisão politicamente correcta. O problema é que política fazer com a decisão tomada! O problema já não é como fazer política no PS, mas sim que PS fazer com a nova política de que Aveiro, Portugal e o Mundo precisam!
O estímulo deste imenso desafio deverá fortalecer a nova liderança na urgente campanha de mobilização da Federação de Aveiro do Partido Socialista, a caminho de uma outra política, para uma nova sociedade!

Aveiro, 06 de Abril de 2003.

Josias Gil, militante nº 8877.
Esmeralda Souto, militante nº 31585
Manuel Oliveira, militante nº46339

Monday, August 16, 2004

Desporto não é só futebol



Camaradas e amigos,

Depois dos excelentes resultados no ciclismo (onde obtivemos uma medalha de prata), o desporto português está novamente de parabéns com a vitória de Miguel Maia e João Brenha no volley, tudo a provar que ao contrário do que muitas mentes iluminadas por aí pensam, desporto não é só futebol (muito longe disso).

Saudações!

Ver
notícia em TSF.online

Sunday, August 15, 2004

É hoje que se decide o futuro da Venezuela.



O sonho de Simon Bolivar era uma América unida de norte a sul.
O mesmo homem que já nos inícios do séc. XIX avisava sobre os perigos do "grande irmão do norte" viu o seu sonho resgatado por Hugo Chávez, o actual presidente venezuelano.

Continuamente atacado pelas suas posições à esquerda e desafiadoras das elites pró-EUA (vende petróleo em condições vantajosas para vários países do Caribe incluindo Cuba, é contra a ALCA e tem tentado reforçar economicamente laços entre os países da "zona andina" - o que também põe em causa a ALCA), Hugo Chavéz foi alvo de um golpe de estado em Abril do ano passado (depois de ele próprio ter tentado o mesmo uns anos antes de ser presidente).
A pressão foi aumentando até a oposição ter conseguido as assinaturas necessárias à realização do referendo do próximo dia 15 de Agosto, o qual só poderia ser feito depois de alcançada a metade do mandato presidencial (5 anos na Venezuela).

A pergunta já está escolhida: "¿Está usted de acuerdo con dejar sin efecto el mandato popular otorgado mediante elecciones democráticas legítimas al ciudadano Hugo Rafael Chávez Frías como presidente de la República Bolivariana de Venezuela para el actual período presidencial?"
Obviamente, o "não" dará a continuidade ao presidente, e o "sim" obrigará a novas eleições.

(Texto retirado do blog: "Grão de Areia)

É hoje que se decide o futuro da Venezuela! Continuará a revolução bolivariana?

Pedro Nuno - Entrevista ao Expresso.



Camaradas,

Quando poderem por favor passem os olhos pelo "Expresso" desta semana. Vem o artigo com o nosso camarada Pedro Nuno.

Saudações Socialistas!

Ver entrevista ao jornal "O Regional".





Saturday, August 14, 2004

Palestina - poema de autoria própria.

“Do rio que tudo arrasta se diz que é violento.
Mas ninguém diz violentas
As margens que o comprimem.”
(Bertold Brechet)




Povo forte e corajoso

Almas oprimidas e revoltadas

Liberdade massacrada

Esperança fantasiada

Sionismo opressor

Trauma e dor

Inteligência reprimida

Na terra invadida

Além no oriente, para além da dor.




João Gomes

Quinta da Regaleira - Uma sugestão em tempo de férias



Um dos lugares mais simbólicos da Maçonaria em Portugal

Chama-se esotérico a um conhecimento oculto, seja doutrina ou técnica de expressão simbólica, reservado aos iniciados:. O esoterismo é, pois, o conjunto de práticas e de ensinamentos esotéricos, no contexto de uma tradição multifacetada que abrange diferentes épocas, lugares e culturas. A Alquimia, a Maçonaria e os Templários, por exemplo, incorporam teorias, rituais e procedimentos herméticos que se integram no âmbito do esoterismo:.

Na tipologia do misticismo judaico, firmado na procura de Deus e na experiência da divindade, o esoterismo baseia-se, fundamentalmente, na lei das correspondências, que visa encontrar, através do recurso à analogia, relações simbólicas entre o divino e o terreno, entre o transcendente e o imanente, entre o visível e o invisível, entre o homem e o universo:. A passagem de uma a outra dimensão opera-se em cerimónias de iniciação, por meio de encenações e rituais de carácter mágico, nos quais o neófito recebe o segredo da transmutação, aceita a filiação no grupo de companheiros e acede a um nível espiritual superior:.

A Franco-Maçonaria antiga, dita operativa, deriva das confrarias, das corporações, dos agrupamentos profissionais de pedreiros livres e dos construtores das catedrais medievais:. À defesa dos interesses profissionais, juntavam os franco-mações preocupações de carácter filantrópico, moral e religioso:. Os grupos maçónicos, organizados em sociedades secretas e reunindo em lojas, foram perdendo o carácter exclusivamente operativo e começaram a aceitar membros estranhos à profissão mas que perfilhavam os mesmos ideais iniciáticos:.

O declínio das confrarias origina, por filiação directa, o aparecimento em 1717, em Inglaterra, da Maçonaria moderna, dita especulativa, uma vez que já não existe ligação à prática do oficio de construção, tendo utensílios como o esquadro e o compasso adquirido um valor eminentemente simbólico:.

A Maçonaria provocou, praticamente desde o início, a oposição da Igreja Católica, embora muitos dos ensinamentos maçónicos, de inspiração cristã, preconizem a crença nas virtudes da caridade, na imortalidade da alma e na existência de um princípio espiritual superior denominado Grande Arquitecto do Universo:. Grande parte da simbologia maçónica, sobretudo a dos altos graus, inspira-se em correntes esotéricas tais como a alquimia, o templarismo e o rosacrucianismo, inscritas em diversos locais da Regaleira:.

Apesar da diversidade de percursos que a Quinta da Regaleira oferece, todos os caminhos podem conduzir a um aglomerado de pedras erguidas, com a aparência de um menir, num dos locais mais belos da mata:. E eis que uma curiosa porta de pedra roda impulsionada por um mecanismo oculto e nos faculta a entrada para outro mundo:. É o monumental poço iniciático, espécie de torre invertida que mergulha nas profundezas da terra:. A terra é o útero materno de onde provem a vida, mas também a sepultura para onde voltará:. Muitos ritos de iniciação aludem a aspectos do nascimento e morte ligados à terra:.

De quinze em quinze degraus se descem os nove patamares desta imensa galeria em espiral, sustentada por inúmeras colunas de apurado trabalho, que vão marcando o ritmo e o aprumo das escadarias:. Os nove patamares circulares do poço, por onde se desce ao abismo da terra ou se sobe em direcção ao céu, consoante a natureza do percurso iniciático escolhido, lembram os nove círculos do Inferno, as nove secções do Purgatório e os nove céus do Paraíso, que o génio de Dante consagrou na Divina Comédia:.

Os capitéis dos colunelos enrolam longas folhas de acanto:. E lá no fundo, a carga dramática acentua-se:. Gravada em embutidos de mármore, sobressai uma cruz templária, aliada a uma estrela de oito pontas, afinal o emblema heráldico de Carvalho Monteiro:. As galerias conduzem-nos, em autênticos labirintos, pelo mundo subterrâneo, aqui e além porventura povoado de morcegos:. De construção artificial, na sua maioria, estas galerias aproveitam, no entanto, as características geológicas da mancha granítica da Serra de Sintra:. No interior, a abóbada divide-se entre os maciços de rocha mãe, de um granito granular médio, geralmente de cor rosada ou parda, e zonas preenchidas com pedra importada da orla marítima da região de Peniche:. É esta pedra, desgastada pelo mar e pelo tempo, que vai contribuir, sobremaneira, para a sugestão de um mundo submerso:.

Ao chegarmos ao exterior, esperam-nos a luz e os cenários minuciosamente construídos:. São animais fantásticos, artifícios de água em cascata, passagens de pedra que parecem flutuar à superfície dos lagos, ou nuvens silenciosas de vapor que dissimulam as entradas para este universo singular:.

A simbólica alquímica parece estar presente em vários locais da Regaleira:. Desde logo, na Capela, na pintura da Coroação de Maria por Cristo, na qual a Virgem ostenta, para além das três cores da Obra alquímica - o azul ou negro, o branco, o vermelho ou rubro - uma faixa dourada que poderá simbolizar o Ouro Alquímico:.

Também num alto relevo existente nas traseiras da Capela, encontra-se representado um castelo com duas torres, separado por uma zona de labaredas, e uma goela infernal:. Trata-se de uma figuração da tri-unidade do mundo e do homem: o mundo superior ou espiritual, o mundo intermédio da alma e o mundo inferior ("ad infero" ou do inferno) material:. A torre rubra é o Atanor, ou forno alquímico:.

Nas cocheiras, sinais de Alquimia voltam a estar presentes, em duas esculturas que formam símbolos clássicos da Arte de Hermes: a serpente que morde a cauda, simbolizando a Unidade, origem e fim da Obra, e a luta entre as duas naturezas, aqui representada por dois dragões, cada um mordendo a cauda do outro. Igualmente susceptível de uma leitura alquímica é a gruta ogival, onde Leda, segurando uma pomba na mão, aparece numa escultura à beira de um pequeno lago, enquanto Zeus, disfarçado de cisne, a fecunda bicando-a na perna:. Trata-se de uma alegoria pagã ao mito, ou mistério, da Imaculada Conceição, ou concepção, que decorre num lugar escuro e húmido:.

A alquimia tem por objectivo a transmutação real ou simbólica dos metais em ouro e por fim último a salvação da alma:. As operações alquímicas são realizadas num Atanor, ou seja, num forno alquímico de combustão lenta, com um cadinho e um balão nos quais se pretende espiritualizar a matéria e materializar o espírito:. Este propósito essencial da Alquimia operativa, executada em laboratório, é a obtenção da Pedra Filosofal, simbiose entre matéria e espírito, da qual poderia resultar, segundo os alquimistas, além da transmutação dos metais em ouro, a realização de um dos desejos ancestrais da humanidade: o elixir da longa vida, capaz de proporcionar saúde e eterna juventude:. Neste sentido, há quem considere a procura alquímica como uma metáfora da condição humana:. A Alquimia assumiu, depois do século XVIII, um carácter manifestamente religioso, dedicando-se sobretudo ao estudo das relações espirituais e energéticas entre o homem (microcosmo) e o universo (macrocosmo):. A partir de um trabalho erudito de equivalências e analogias, aceita-se que o universo nos engloba e nos interpela num só movimento existencial - ele é ao mesmo tempo transcendência (Outro) e nós próprios:.

Parece evidente que a concepção religiosa do mundo que preside à Regaleira assenta no Cristianismo, mas num Cristianismo escatológico, que tem a ver com o fim dos tempos:. Quer recorramos à lição da escatologia cósmica, que prenuncia o fim do universo e da humanidade, quer nos atenhamos à escatologia individual, que assenta na crença da sobrevivência da alma depois da morte, é a mesma ideia obsessiva que encontramos:. É também um Cristianismo gnóstico, apoiado em discursos míticos e em conhecimentos sagrados que prometem a salvação dos fiéis e o retorno dos espíritos:. É, enfim, um Cristianismo imbuído de ideais neo-templários, associados ao Culto do Espírito Santo, que encontramos na tradição mítica portuguesa:.

Os templários foram monges-soldados, cuja ordem militar, fundada no período das Cruzadas em 1119, visava proteger os lugares santos da Palestina contra o perigo dos infiéis:. Os votos de pobreza e castidade não impediram os Cavaleiros da Milícia do Templo de enriquecer e de desempenhar um importante papel económico e político, tanto no Oriente como na Europa, a ponto de criarem poderosos inimigos, como o rei Filipe IV de França e o Papa Clemente V, que levaram à perseguição e à extinção da ordem em 1314, sob acusações, porventura falsas, de blasfémia e imoralidade:. Em 1317, D. Dinis de Portugal afectou os bens dos templários à Ordem de Cristo, que muitos aceitaram como sua sucessora:.

Desaparecidos os templários não desapareceu o templarismo, cujo espírito, resumido na defesa dos lugares sagrados e na luta contra o mal, renasceu em várias correntes e organizações iniciáticas como sendo a afirmação simbólica da sobrevivência da Ordem do Templo:. A cruz templária no fundo do poço iniciático, a cruz da Ordem de Cristo no pavimento da Capela, bem como todas as outras cruzes dispostas na Capela, testemunham a influência do templarismo no ideário sincrético de Carvalho Monteiro:.

Há ainda, na Regaleira, referências rosacrucianas, em alusão à corrente esotérica iniciada no séc. XVII, de tendência cristã, utilizando os símbolos conjuntos da rosa e da cruz:. O movimento Rosa-Cruz propunha reformas sociais e religiosas, exaltava a humildade, a justiça, a verdade e a castidade, apelando à cura de todas as doenças do corpo e da alma:. Tornou-se grau maçónico de várias Ordens e, ainda hoje, existem escolas esotéricas e sociedades secretas que pretendem assumir-se como reaparições do mito Rosa-Cruz:.

Fotos: Luis Figueiredo © 2004
Textos: website da Quinta da Regaleira (desactivado de momento)
Pode encontrar mais informações no website da C.M. de Sintra (clique AQUI)

Informação sobre as Visitas

Horário:

? Das 10h00 às 17h30 (aberto todos os dias e com a possibilidade de visitas guiadas às 10H30, 11H00, 12H30, 14H00, 14H30 e 16H00, 16H30 e 17H30)
? Visitas temáticas e especializadas mediante marcação prévia.
? Reservas de segunda a sexta-feira, entre as 10h00 e as 17h30
? Visitas não acompanhadas: entre as 10h00 e as 19h00

Marcações e Preços

? Entradas individuais para visita livre, 5 Euros
? Entradas individuais para visitas guiadas, 10 Euros, 15 Euros ou 20 Euros, consoante o nível de especialização da visita
? Bilhete família para visita livre, 15 Euros
? Bilhete família para visitas guiadas, 30 Euros, 45 Euros ou 75 Euros
? Crianças dos 8 aos 14 anos, 2,5 Euros em visita livre, 5 Euros, 7,5 Euros ou 12,5 Euros em visitas guiadas.
? Estudantes com mais de 15 anos, portadores de cartão jovem, e adultos com mais de 65 anos: visita livre 4 Euros, visita guiada 8 Euros, 12Euros ou 20 Euros.
? Pacote júnior (crianças até 10 anos no máximo de 25 pessoas): 100 Euros.
? Pacote escolar (dos 11 aos 18 anos, no máximo de 25 pessoas): 100 Euros.
? Pacote sénior (adultos com mais de 65 anos, no máximo de 25 pessoas): 100 Euros.
? Passaporte Regaleira: trimestral, 15 Euros; anual, 50 Euros.
? Entrada gratuita para crianças até aos 8 anos desde que acompanhadas por um adulto.

Tel.: 21 9106650 /9 - Fax: 21 9244725

Mais política meus senhores!



Camaradas,

Depois de 15 dias de umas merecidas férias volto um pouco entristecido com a campanha para SGPS, muito insulto e intriga que não são nada benéficos para o PS.

Vamos debater ideias camaradas!

Saudações Socialistas.

www.manuelalegre.org         
www.joaosoares.org         
www.josesocrates.com


Saturday, July 31, 2004

Nau Cratineta



Lá vem a Nau Catrineta
Que tem muito que contar
São Paulo Portas à proa
Santanás a comandar
Ouvi agora senhores
Uma história de pasmar

D. Bagão conta o pilim
D. Morais trata das velas
D. Guedes limpa com VIM
Tachos, pratos e panelas

D. Pereira na enfermaria
Conta pensos e emplastros
E o D. António Mexia
Põe vaselina nos mastros

D. Durão deu à soleta
Enjoou de andar à vela
E Santa Manuela Forreta
Largou-os sem lhes dar trela

Aflito El-Rei Sampaio
Com estas novas tão más
Disse aos bobos de soslaio
Chamai lá o Santanás
Aqui estou meu Senhor

Vós mandasteis-me chamar?
Soube agora desse horror
D. Durão vai desertar?
Cala-te lá meu charmoso

Não me lixes mais a vida
Troco um cherne mal-cheiroso
Por um carapau de corrida?
Pobre da Nau Catrineta

Já lamento a tua sorte
Esta marinhagem da treta
Nem sabe onde fica o Norte
Parece que já estou vendo

Em vez de descobrir mundo
Ao primeiro pé de vento
Espetam com o barco no fundo
Ou então este matraque

Com pinta de Valentino
Gasta-me a massa do saque
Nas boîtes do caminho
Não se aflija meu Rei

Que agora vou assentar
Pois depois do que passei
Cheguei onde quis chegar
E por aquilo que passei

Aqui ninguém nos escuta
Eu quero mesmo é ser Rei
E vamos embora à luta.


retirado de: www.blogosocialportugues.blospot.com

Porque saí do BE para o PS.

Exmos. Srs. da Comissão Executiva do Bloco de Esquerda,


Venho, por este meio, no seguimento da minha inactividade dentro do aparelho partidário, requerer a anulação da minha filiação no Bloco de Esquerda.

A minha saída não deve ser interpretada como uma mudança de convicções ou mesmo de ideais, pelo contrário, abandono o movimento com a certeza que “nada se ganha, nada se perde, tudo se transforma”. Assumo pois, a responsabilidade de continuar a perseguir o sonho, mesmo fora do bloco contínuo a acreditar na liberdade. Com o bloco obtive experiências e ensinamentos que de certeza me serão úteis no futuro, em que continuarei a tentar modificar mentalidades e consciências, sempre no respeito pela diferença.

Em cinco anos, o Bloco de Esquerda pautou a sua actuação pela positiva. Todos os portugueses sentiram que “a Liberdade estava a passar por aqui” e várias forças de tradições distintas mas convicções unitárias juntaram-se e tentaram “começar de novo”. A Assembleia da Republica não conhecia um deputado da “esquerda revolucionária” desde que a UDP tinha perdido o seu assento parlamentar. O BE em duas legislaturas conseguiu eleger primeiro dois e depois três deputados, que honrosamente deram a sua vós pelo aborto, contra a globalização, em defesa das minorias sexuais, sociais e étnicas e promoveram sempre uma postura de frontalidade e combate.

É extraordinário como forças tão distintas conseguiram dar a mão, a heterogeneidade política do bloco constitui um dos seus maiores fortes, mas também um dos seus principais problemas. Lembro-me que aquando da fundação do movimento ouvi o Dr. Garcia Pereira (líder do PCTP/MRPP) proferir na televisão que “o bloco é uma feijoada ideológica”, nunca estive tão ciente de tal facto como agora e também do problema que este constitui. Se tomarmos o BE na totalidade dos seus aderentes, podemos facilmente concluir que este abarca tradições de vários movimentos tão distintos como FEC(ML) e MDP/CDE ou OCMLP e LCI, que sempre tiveram visões distintas não só do marxismo, mas também da política em geral.

O Bloco de Esquerda conseguiu unir toda uma esquerda heterogenia em torno dos problemas políticos e sociais da actualidade. Mas pecou por no meio desta heterogeneidade só ter conseguido abarcar movimentos de cariz “extremista” (não no sentido pejorativo da palavra). Na minha opinião é impossível construir uma verdadeira alternativa de esquerda para o nosso país se não tivermos uma visão europeísta da actualidade. Não podemos ser retrógrados ao ponto de continuarmos a encarar os agentes de produção como “capitalistas e proletários”, temos que ter a noção que depois do 25 de Abril já caiu o muro e abriu-se a “cortina de ferro”.



Bertolt Brechet num dos seus poemas referiu que “os vencidos de hoje serão os vencedores de amanhã”. E tem razão, contínuo a acreditar numa sociedade mais justa e em que a igualdade impere, mas sinto-me convicto que de certeza não passará pela “ditadura do proletariado”. O capitalismo só pode ser vencido com o auxílio da democracia, através de transformações políticas e sociais, que visem melhorar as condições de vida dos mais pobres, promover a igualdade e promover a transparência financeira.

O Bloco de Esquerda serve sem dúvida para mexer em tabus e alertar as consciências, promover o direito pela diferença, lutar pelo direito dos trabalhadores e dos estudantes e lançar vários desafios à sociedade. Mas quais são os efeitos práticos desta política? O bloco contínua a ser um movimento com pouca expressão, mas com muita projecção devido à maneira inteligente como vocês sabem usar a comunicação social. A globalização que vocês tanto criticam é utilizada para ganhar visibilidade, num eleitorado marcadamente urbano e esclarecido.

Na minha opinião, actualmente só existe um partido capaz de construir uma verdadeira alternativa à direita no nosso país. O BE não conta nem com uma base eleitoral, nem com meios para conseguir atingir o poder e governar, com a estabilidade que o nosso país merece e precisa. É urgente fazer várias transformações “de esquerda”, em vários sectores governativos, mas dentro de uma linha de moderação.

Perante a conjuntura actual, em que temos uma direita extremista minoritária a controlar os destinos do país, é urgente construir uma alternativa governativa viável. E tal alternativa pode e deve ser construída com o auxílio do BE e também de todas as outras forças de esquerda.

Só um partido que tenha esquecido os velhos dogmas e encare o futuro de uma forma progressista, pode assumir a responsabilidade de comandar o destino da nação, desenvolve-la e promover uma transformação social. É preciso que trabalhadores, empresários, comerciantes, intelectuais, humanistas, estudantes e ecologistas dêem as mãos para poderem enfrentar este desafio. Portugal merece.

Terminando, gostava de obter com a maior brevidade uma resposta ao meu pedido de cancelamento da filiação no movimento.

Os melhores cumprimentos,

Friday, July 30, 2004

Caros amigos,

Decidi criar este "blog" para debater os problemas sociais que o nosso país e o mundo atravessam. Achei interessante lançar o debate em torno da esquerda, esta nova esquerda do século XXI que acredita no "Socialismo em Liberdade", uma esquerda da cidadania, que mexe em tabus e alerta consciências, sempre no respeito pela diferença.

Atravessamos tempos complicados, o populismo mediático tomou conta do governo e pode vir até a tomar conta da esquerda. A indiferença afecta os jovens e o cidadão comum, os políticos caíram na descrença das populações e o sonho não é mais que fantasia, mistificada utopia que se desvanece nos corações dos sociais-democratas, que se entregam à indiferença.

Estaremos então a caír na política do "show-off"? Como diz M. Alegre: "Apartir de agora é tudo imagem, sacanagem / Gosto amargo do mundo / Bebe-se um trago, fica-se um travo (...) Mas se a História é interdita, e não nos resta sequer a escrita, que farei eu com este cravo?". (Manuel Alegre) 
 
Somos nós, jovens e socialistas que temos que dar uma resposta. Lançar o debate e lutar para construírmos um mundo novo. Mas, "isto vai meus amigos isto vai,/ um passo atrás são sempre dois em frente/ e um povo verdadeiro não se trai / não quer gente mais gente que outra gente." (J. C. Ary dos Santos)

Saudações Socialistas!