Sunday, September 12, 2004

Regresso de Férias...



Depois de um longo período de descanso dou continuidade à minha crónica semanal e vou aproveitar a oportunidade que me foi concedida para exprimir a minha opinião relativamente a três temas que agitam, neste momento, a sociedade.

Interrupção Voluntária da Gravidez

Em primeiro lugar gostava de comentar a vinda de uma embarcação da organização holandesa “Women on Waves” ao nosso país, que a convite de outras organizações que lutam pelos direitos da mulher decidiu disponibilizar a possibilidade de mulheres do nosso país se deslocarem até águas territoriais holandesas para efectuarem uma interrupção voluntária da gravidez. Este barco percorreu vários países que tal como Portugal ainda não dão liberdade às mulheres para que abortem e as obriga a terem um filho, mesmo que estas não tenham meios para assegurarem qualidade de vida ao ser humano que dão à luz. O mais caricato é que o nosso país foi o único que proibiu a entrada da embarcação e colocou dois barcos de guerra a vigiá-la, como se os profissionais de saúde que aí viajassem fossem terroristas ou um outro perigo para a nação.
É escusado referir que este acto reflecte não só a falta de cultura democrática da direita minoritária que governa o nosso país, como também é uma prova evidente que o reaccionarismo impera em alguns sectores da sociedade, que baseados em crenças religiosas e teorias políticas sobre o “direito à vida”, condenam a entrada do barco em Portugal e mais importante do que isso o relançamento do tema da Interrupção Voluntária da Gravidez. O povo do nosso país, não pode permitir que os direitos das mulheres voltem a ser referendados, os direitos individuais têm que ser consagrados pela lei pois o aborto é uma opção livre e individual de cada casal. É inaceitável que o governo português não tenha tomado uma posição forte no caso do petroleiro “Prestige” e que agora o Dr. Paulo Portas envie fragatas para vigiar activistas dos direitos humanos e profissionais do sector da saúde.

Kerry presidente!

Aproximam-se as eleições nos Estados Unidos da América e a sociedade civil americana encontra-se completamente dividida, de um lado os apoiantes de George W. Bush que, numa crença sebastianista, continuam a defender a intervenção militar no Iraque mesmo depois de se ter descoberto que não haviam armas químicas e biológicas, a ignorar as palhaçadas proferidas pelo Sr. Presidente e a ignorar a crise económica e financeira que abala o país. Do outro lado encontram-se os apoiantes de John Kerry, que vêm nele uma possibilidade de mudança das políticas neo-liberais e de cariz Imperialista levadas acabo pelo “clã Bush”.
Para que não restem duvidas sobre o trabalho prestado por George W. Bush ao seu país, basta referir que o “Mr. President” aumentou 9,4% as despesas militares e de segurança interna, em detrimento dos programas sociais que viram os seus fundos reduzidos, sendo que reduziu 3,2% o investimento na educação e 7,2% na protecção ambiental, por exemplo. A juntar a isto podemos referir que pelo terceiro ano consecutivo o número de americanos a viver abaixo do limiar da pobreza aumentou em 1,3 milhões e que actualmente estima-se que 12,5% da população americana viva na pobreza.
Kerry será um novo folgo para o recuo das políticas neo-liberais, para implantação de novas políticas sociais e económicas e para uma melhor prestação no campo da diplomacia. Força John Kerry!


Porque apoio José Sócrates

O nosso país vive actualmente uma situação política bastante complicada, pois temos um primeiro-ministro que governa sem legitimidade democrática para tal, um Presidente da República desprestigiado perante a população, uma crise económica que não tem retoma à vista e um governo que se mostra desorientado em todos os sectores. Bastava ouvir o discurso de tomada de posse do Dr. Santana Lopes para perceber que este se encontrava completamente aos papéis e observar as trocas nas secretarias de estado em plena tomada de posse dos secretários de estado para tomarmos ideia da desorganização que reina nos nossos governantes.
Perante tal cenário o Partido Socialista tem, obrigatoriamente, de assumir uma postura de combate à política da direita extremista e minoritária que em coligação com os ditos sociais-democratas governa este pequeno jardim à beira-mar plantado. A esquerda contemporânea tem que dar respostas de governação credíveis para evitar que o nosso país se continue a afundar num role de políticas erradas e prejudiciais.
Todos os que acusam José Sócrates de desvios centristas, devem rever as suas posições e reflectir sobre o percurso político do mesmo enquanto responsável pelos direitos do consumidor e ministro do ambiente. Para além disso, devem ter em mente que o projecto “Esquerda Moderna” é um projecto de governação à esquerda que engloba medidas positivas para o país, tendo sido exemplarmente redigido por um dos jovens mais intreventivos do partido (Sérgio Sousa Pinto).
É de salutar a importância, para a democracia partidária, da existência de vários candidatos e pontos de vista diferentes sobre a sociedade, dentro do próprio partido. O que não acho admissível é que colem o rótulo de “centrista” a um militante do PS só por este apoiar José Sócrates, eu apoio convictamente o que para mim será o melhor secretário-geral do partido e não admito que ninguém detenha monopólios da esquerda.



João Gomes
Jornal O'Regional

1 comment:

Anonymous said...

Pois é, a Marinha existe para isso mesmo, para evitar violações à Lei e Ordem Constitucional. Mais, existe também para efectuar operações de salvamento, que se afiguravam necessárias tal era a concentração de baros naquela zona. Quanto ao Prestige, caro João os barcos de guerra também por lá andaram, embora claro que nunca por àguas territoriais espanholas, é uma situação completamente diferente pois se uma coisa é impedir a entrada de um barco que iria certamente violar a lei Portuguesa, outra coisa é exigir a saída de um barco de àguas territoriais de um país soberano. Se a situação do Aborto está como está, antes de criticarem a direita minoritaria critiquem entao o governo PS que não teve coragem para revogar a actual Lei do Aborto! Agora resta cativar e não chocar, porque a democracia é isso e como a democracia compreende o estado de direito... está tudo dito não? Armando Jorge http://alcaiada.blogs.sapo.pt