Monday, November 06, 2006

Geração de 90

Um belo dia acordo e apercebo-me que a “minha” geração de 80, apelidada de rasca, abandona a paços largos a adolescência e começa a ter de enfrentar as vicissitudes da vida, ora os mais novos como eu no ensino superior ou no profissionalizante, ora os mais velhos num mercado de trabalho lotado e que poucas perspectivas oferece para aqueles que procuram a independência.

Posso dizer que me orgulho bastante da geração de 80, se calhar por ter sido a última a ter alguma consciência política e social, a mostrar resistência a muito do lixo comercial que nos tentaram vender e por não nos deixarmos seduzir por um mundo completamente desfasado de preceitos éticos e morais, em que hoje vemos cair os pré-adolescentes e adolescentes da geração de 90. Também durante a minha pré-adolescência e meados da mesma havia música sem qualidade e sem conteúdo, haviam séries televisivas e filmes que em nada contribuíam para a nossa formação, mas à parte disto sobreviveu sempre um espírito crítico intrínseco a uma geração que, no caso dos mais velhos, viveu anos quentes de luta contra as propinas no ensino superior e no caso dos mais novos, a luta contra a revisão curricular no ensino secundário. Na música, nascemos a ouvir Madonna, mas preferimos muitas vezes optar por Pearl Jam, System of a down e até os velhinhos Rage Against the Machine. Curiosamente esta nova geração esquece aqueles que faziam música com um propósito cultural, relança a Madonna e faz os D’Zrt venderem 130 000 discos só em 2005.

Na minha óptica uma geração espelha-se um pouco nos seus ídolos e certamente não seria exigível aos nossos adolescentes que ainda tivessem como ícones o Che Guevara, o Kurt Cobain, o Gandi ou o Andy Warhol. Também seria pouco razoável exigir que os jovens dos 11 aos 16 anos comprassem as colecções de filmes do Woody Allen e se deliciassem a ouvir as músicas do Jacques Brell. Mas em contrapartida não é aceitável que os mesmos idolatrem as personagens dos Morangos com Açúcar e da Floribella, decorem as músicas dos D’Zrt, futilizem as relações sexuais e acompanhem efusivamente todos os combates de luta livre americana, que qualquer criança da minha geração, na sua transição para a adolescência, começava a apelidar de palhaçada.

Hoje qualquer pré-adolescente sai todas as semanas até às seis da manhã de sábado com maior facilidade do que a minha geração conseguia convencer o pai a deixar-nos comer um Big Mac no centro comercial à tarde, ou a ir ao cinema de comboio ao sábado. Jantar com os amigos ao fim-de-semana e poder ir a um bar até à meia-noite deixou de ser uma conquista, esta geração quer aproveitar cada minuto como se fosse o último da vida e os pais consentem e promovem inconscientemente esta situação.

Basta observar o que as séries televisivas com maior sucesso nesta faixa etária incutem nos nossos adolescentes, que são afinal o futuro do nosso país. Temos o exemplo de uma tal de Floribella que encarna o espírito do Estado Novo da menina que vive bem porque é pobre, que tem um gosto horrendo, que tem uma paixão de conto de fadas, que tem um mau português e um sotaque nitidamente forçado, que é ignorante do ponto de vista das letras mas é uma jóia de miúda porque borda vestidos como ninguém e comporta-se sempre como uma bela fada do lar. Estamos pois perante o retrato robô do machismo lusitano, que idolatra a mulher sem qualquer tipo de formação académica, que cozinha e borda como ninguém e que vive um amor quase épico pelo homem mais velho, que ainda por cima pinta o cabelo de ruivo.

Já no que diz respeito aos Morangos com Açúcar o caso é mais complicado, são incutidas formas de estar, de vestir, de ser e de pensar que mais não são do que aquilo que a indústria televisiva quer vender, formando jovens incultos e sem ambições pessoais. Nenhum dos jovens daquela série televisiva é visto a discutir cinema, música de qualidade, literatura, arte ou assuntos académicos de relevo e o único que o faz é apresentado como crom(i)o e acabou de lançar um CD de música pimba. Bastar assistir a dois ou três episódios da série para nos apercebermos que nenhuma daquelas criaturas sabe quem foi Satre, Nietzsche, Rousseau ou Locke. A maioria provavelmente não faz ideia em que século viveu Mozart e se questionado sobre a nacionalidade do Papa João XXI diria que o mesmo era italiano. Com toda a certeza que a maioria dos espectadores desta série até viram o filme “O Crime do Padre Amaro” para observarem os seios da Soraia Chaves, mas não sabem que o livro que dá nome ao filme foi escrito pelo Eça de Queiroz.

As roupas desta geração tentam ser radicais o que é próprio de todas as gerações de adolescentes, o que não é comum é estas sendo radicais não terem qualquer conotação ideológica, para comprovar isso basta ver que um jovem na década de 70 andava com umas botas Dock Martins com o significado de admirar o movimento Punk, na década de 80 e 90 andar com umas calças Resina significava alguma ligação ao então insurgente movimento hip-hop norte-americano e agora o que significa um adolescente andar com uma t-shirt lilás rasgada, de decote em bico e a dizer “Puta Madre” em dourado? Talvez uma qualquer alusão ao Dino ou ao Cristiano Ronaldo.

O que é necessário reter é a necessidade premente desta geração de adolescentes não se transformar unicamente no espelho da futilidade do capitalismo selvático e sem preceitos culturais. Esta tarefa cabe não só às escolas que têm que começar a fomentar uma política de promoção cultural e literária, mas principalmente aos pais que têm a função de educar os seus filhos alertando-os para todos os males desta nova sociedade e fomentando-lhes o gosto pela descoberta e pela cultura. Como disse há uns meses atrás Maria Filomena Mónica numa crónica sobre a série Morangos com Açúcar: “Os pais que o conseguirem poderão orgulhar-se de estar a formar uma elite, cuja cultura não se baseia apenas em telenovelas, mas no que a cultura superior tem para oferecer”.

4 comments:

Pedro Sá said...

Este post é todo ele uma desilusão absoluta.

Em primeiro lugar porque o autor não tem a mínima consciência que o que está a dizer dos mais novos dizem outros mais velhos das pessoas da idade dele e já disseram antes etc. etc.

Em segundo lugar pela absoluta falta de respeito pelos gostos alheios. É tão legítimo gostar de A como de B. E pretender ensinar às pessoas do que gostar é pura e simplesmente fascista com todas as letras.

Gustavo Gouveia said...

PEARL JAM ALEZ ALEZ!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!

Gustavo Gouveia said...

Gostei mt do coment. Mas não vou individualizar esta série ou aquela novela, mas talvez o que todas têm em comum.
Acredita que custa-me afirmá-lo, mas os pensamentos mais liberais, e a ideologia mais ousada, permitiram a que por cima do preconceito, o mundo fosse feito.
E o Mundo que se construio, com toda a liberdade social e politica, deixou as mamas da Soraia Chaves (sorry n dizer seios) passar no cinema, e as pussycat dools terem relações sexuais nos videoclips (ou quase). Somos todos democratas, e liberais. Acreditamos que são de direito nosso, os nossos comportamentos mais atrevidos, seja em que sentido for usada a palavra. Há 500 anos a homossexualidade era combatida com a pena capital, e agora afirmamos "cada um é como cada qual" e demos a liberdade de se ser homossexual.
E muito bem, claro. Mas para aceitar isso, e muitas outras coisas inerentes á minha filosofia politica, claramente á esquerda, sou obrigado a concordar que a sociedade deve permitir todo o tipo de exibições moralmente condenávies como as que tu referiste. E bem, aí descobre-se que a frase "aproveita o momento" vende, e muito. E se é permitida que venda, é vendida, e dá lucro. onde aproveitar o momento, aos 12 anos, pode ser fumar e sair todos os dias até ás 6, onde os pais um pouco á parte, ou despreocupados com a formação como tu a descreveste, permitem que ocorra. Afinal também são liberais!!!
Mas voltando a falar das vendas. A sociedade não o reprime mais, portanto o sexo(e sim, quem compra o cd Beyonce esta a comprar sexo) vende-se, aparece em todo o lado, aposto que nunca se falou tanto de sexo. E quem tem 14 anos e nunca pôs os pezinhos No Garage, em Lisboa, e seguramente um grande totó que não vai fazer nenhum da vida. E já ouvi argumentos desses poh tabaco, pah droga, poh alcool... Mantenho a opinião de há pouco, temos que aproveitar a vida, podemos aproveitar a vida, e portanto vamos fazer isso tudo e mais. E como isso vende, só existirá mais, mais morangos totalmente descaracterizados mas que são tds mt fixes e giros e com gajas mta loucas (s há gajas temos k ser assim, n?) mais musica fraca, mais sexo na MTV, mais Garage, droga... mais NOW
Agora, e admitimos que esta geração de 90 é menos preparada, é menos caracterizada, o movimento é uniforme, sem luta(porque não é precisa, visto que todos aceitamos as cristas dos punks e as rimas agressivas dos primeiros MC's)simples e cativante. Instalou-se,veio para ficar e nós assumimos que não gostamos dele e que o queremos erradicar? como? como, sem fazer fraquejar o nosso sentido democrático? e quem teve a culpa? quem vendeu a imagem, ou aqueles que combateram pela liberdade, e que tornaram o Mundo um lugar mais permissivo e livre? teremos sido... nós?err...=X

Joaninha said...

concordo contigo joão
tas lá

pearl jam "siempre"