Wednesday, January 10, 2007

República socialista nas mãos de Chávez

Hoje no JN, artigo de Orlando Castro

"Hugo Chávez tem emergido como o grande líder regional, capaz de influenciar países como a Bolívia ou mesmo Cuba



Aí está a "República Socialista do Século XXI", até ontem também conhecida apenas por Venezuela. O presidente Hugo Chávez inicia hoje o segundo mandato em que quase tudo é novo ministros, vice-presidente, ministérios e nacionalizações. O Mundo, sobretudo na sua parte económica, está em alerta. Politicamente conclui-se que Chávez foi subestimado, não só pelos EUA mas sobretudo pelos seus homólogos regionais de maior relevo, Brasil e Argentina.

O presidente venezuelano emerge como o grande líder regional, mostrando grande mestria política em que, a par do pragmatismo económico, joga com o populismo que o povo gosta de ouvir. Chávez anuncia um empréstimo à Nicarágua; apoia abertamente Rafael Correa (Equador) no conflito com a Colômbia; influencia todas as decisões de Evo Morales (Bolívia) e soma pontos em Cuba junto do previsível sucessor de Fidel Castro, o seu irmão de Raul.

Internamente, a acção de Chávez pode resumir-se à pura e simples extinção da economia privada. Ou seja, o modelo socialista "made in Venezuela" manterá o sector privado sob a tutela do Estado que será quem determinará preços e lucros. Algo que o presidente explica como uma governação baseada em Karl Marx, Vladimir Ilich Lenin e na Bíblia.

Chávez chama-lhe socialismo do século XXI ao estilo de "um líder, um país, uma ideologia". Os analistas ocidentais de há muito que lhe deram o nome de totalitarismo.

Certo, importa recordar, é que Hugo Chávez tem um mandato democrático até 2013 e que lhe foi conferido à luz do mais alto crescimento económico de toda a região - o ano passado foi de 10,3% e este ano deverá chegar aos 6%. É também certo que isso se deveu a factores externos, sobretudo pelo preço do petróleo, e não a investimentos estruturais e estruturantes. Mas isso não é coisa que preocupe os venezuelanos. A Venezuela é o quinto exportador mundial de petróleo, com uma quota de três milhões de barris diários. No senda de passar tudo o que dá dinheiro para as mãos do Estado, o presidente venezuelano vai, "para já", nacionalizar as empresas de electricidade e de telecomunicações. "Temos de recuperar a propriedade dos sectores estratégicos," afirma, referindo-se a todas as empresas que foram privatizadas antes de 1999, ano em que Chávez chegou ao poder.

A primeira fase da transição para o socialismo passa também "pela profunda revisão" da Constituição que os venezuelanos referendaram em Dezembro de 1991 e pela actualização de leis como o "Código de Comércio".

Paradigma da política de Chávez é o facto de o Banco Central da Venezuela perder a autonomia em relação ao Governo, passando a ser um instrumento deste no âmbito do socialismo económico.

Embora, do ponto de vista da legalidade ainda vigente, Hugo Chávez não possa fazer tudo o que anuncia, vai exigir à Assembleia Nacional que promulgue a "Lei Habilitante" que, essa sim, lhe dará "poderes especiais".

A decisão do Parlamento será tomada dentro de 15 dias e tudo indica que serão conferidos ao presidente todos os poderes que ele quer e pelo tempo que ele achar necessário."

1 comment:

Gustavo Gouveia said...

O que dirão os partidos da oposição desse moço?
Por outro lado, não é o meu modelo. Nunca será. Mas se os venezuelanos o elegeram, e estão a crescer com este regime(ou apesar dele) bom para eles. Nada a acrescentar