Sunday, December 11, 2005

Geração Perdida

No outro dia, observava a colecção de DVD's das minhas primas e descobri dois filmes bastante interessantes e que, embora de formas diferentes, abordam uma temática cada vez mais actual no quotidiano das nossas grandes metrópoles. Refiro-me à falada e já há uns bons anos apelidada de "geração rasca" e os filmes são o mítico KIDS e o nosso português ZONA J do Leonel Vieira e que conta com uma representação magnífica da nossa Dália Madruga e do Felix Fontoura, que encarnam os papeis principais.
Ao visionar os dois filmes notamos claramente várias diferenças sobre as realidades que nos são apresentadas, primeiro porque um aborda esta temática tendo em vista a realidade norte-americana enquanto o outro tem como cenário Chelas (essa bela localidade...) e depois porque o primeiro data de 1995, enquanto o outro é um pouco mais recente. Mas se observarmos a génese que nos é proposta por ambos os realizadores, notamos que existem largos paralelos não só nos filmes, mas também na própria realidade que é abordada.
Encontramos em ambos o retrato de um geração perdida, que vive em bairros sociais com péssimas condições, numa sociedade onde o racismo e a xenófobia imperam, onde os imigrantes são muito pouco compreendidos e onde a criminalidade serve de escapatória para uma segunda geração de imigrantes que com poucas possibilidades e sem nenhumas habilitações literárias encontra possibilidade para sobreviver, marginal sem dúvida, mas a única possibilidade. A juntar a estes problemas, podemos acrescentar a toxicodependência e a sida que continuam a alastrar nestes meios mais desfavorecidos em pleno séc. XXI e no seio de capitais de países desenvolvidos.
Passamos da geração hippie dos jovens burgueses que apregoavam a liberdade sexual e a libertação espiritual das drogas, para uma geração teenager do rock n'roll e das calças levi's e agora culminamos com uma geração (que por ter valores não é rasca!) que se divide cada vez mais entre mais ricos e mais pobres, entre aqueles que têm acesso a uma verdadeira educação de qualidade, a conforto e a ambiente familiar e aqueles que vivem em famílias destruturadas e têm nas drogas e na marginalidade a única possibilidade de refúgio.
Mas talvez a maior diferença entre os dois filmes, seja o nosso português continuar a mostrar o seu espírito romântico e saudosista, apelar ao amor como salvação universal. Não pensem que estou a usar isto de forma prejurativa, pelo contrário, só com amor, amizade e tolerância para com todos os seres humanos iguais a nós é que podemos tentar mudar alguma coisa, para que a delinquência juvenil não chegue ao extremo que vimos em França...
"Do rio que tudo arrasta se diz violento, mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem" (Bertolt Brecht)

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