Sunday, January 08, 2006

Saudade de Jorge Sampaio.

Numa altura em que apenas o futuro da Presidência da República é discutido, vimos a terreiro fazer a apologia do Presidente cessante. Em tempo de passagem de testemunho, é lugar comum em Portugal esquecermo-nos do Rei Morto, sendo useiro e vezeiro lançar os holofotes sobre quem terá o poder, em detrimento de quem cessa a sua posse.
Pelo Presidente que foi, Jorge Sampaio merece todos os holofotes do País. Escrevemos sobre ele para que jamais seja esquecido, porque durante esta campanha, mais do que pensar em quem votaremos, algo que decidimos bem cedo, temos pensado na falta que nos faz nesta eleição, um Homem como Ele em quem votar.
Adiante. Amiúde criticado, Sampaio foi para nós o melhor Presidente da República de Portugal até aos nossos dias. Foi um verdadeiro Chefe de Estado, na acepção Constitucional da palavra, aquela que é importante cumprir e que tão mal tratada tem sido, pois é a Lei Fundamental que nos deve orientar, e não os instintos passageiros e conjunturais.
Homem culto e que o soube ostentar sempre que necessário, cultor da língua portuguesa, sensível (por vezes até demais) aos problemas dos portugueses. Desde cedo demonstrou as suas enormes preocupações com as vítimas da sociedade dos tempos modernos, quando da sua participação na Comissão Europeia dos Direitos do Homem no Conselho da Europa, onde realizou um importante trabalho na defesa dos Direitos Fundamentais.
Portugal, sociedade e cultura são três palavras que conjugadas definem aquela que foi a sua actuação. São no nosso entender estas que devem orientar um Presidente da República, e da sua concretização deriva a nossa admiração pela Pessoa aqui retratada. Soube debruçar-se sobre o País, sobre o País real. Mais do que viajar lá fora, viajou cá dentro, deu a conhecer as pessoas e as tradições, promoveu Portugal e os seus problemas, a sua sabedoria e a sua elegância.
Mas não se limitou a aquém fronteiras. Porque o Presidente da República representa também parte importante da política externa de Portugal, Jorge Sampaio foi exemplar lidando com o problema da independência de Timor-Leste, alcançando um plano de destaque na política internacional.
Foi nos seus mandatos que terminou a tradição de a Presidência da República ser uma fonte de problemas para a estabilidade do País o dos Governos. Depois das sagas do General Ramalho Eanes e de Mário Soares que muitas vezes actuaram como forças de bloqueio, Jorge Sampaio, com uma postura construtiva, séria e sempre credível, marcou a diferença para aquela que era neste campo, a triste história recente de Portugal. Na única questão polémica, estamos certos que Sampaio agiu bem ao não convocar eleições antecipadas após a resignação de Durão Barroso. Mesmo nesta situação não cedeu às pressões de toda a esquerda interna, aquela que é a sua proveniência política.
É por tudo isto que temos Jorge Sampaio como uma das figuras do início do séc. XXI em Portugal. Estamos certos que após as eleições justiça será feita, e que o actual Presidente da Republica ficará condignamente marcado na história de Portugal.
Como cultor impar da língua portuguesa, aliado a uma sensibilidade também rara, Sampaio conhece como poucos a palavra saudade, a mais portuguesa de todas e a primeira que nos vem à cabeça, quando por estes dias se nos depara o seu nome.

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