Wednesday, January 11, 2006

Trabalho de Ciência Política e Direito Constitucional sobre a obra "A Student's Guide to Political Philosophy" de Harvey C. Mansfield

João Gomes Ferreira de Almeida
Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa
Turma A / 1


“Não dizemos que um homem que não revela
interesse pela política é um homem que não
interfere na vida dos outros; dizemos que não
interfere na vida.”

(Oração fúnebre de Péricles, in Tucídides,
História da Guerra de Peloponeso, 147)


Quando analisamos a obra “A Student’s Guide to Political Philosophy” temos que, em primeiro lugar, ter em conta que se trata de um manual de estudo de filosofia política e não de ciência política, como tal, não existe uma intenção objectiva de incutir nos estudantes qualquer tipo de ideologia, ou até, dos levar a compreender qual é a melhor forma de pensamento político e consequente modo de governação do estado. Prova disto mesmo é o pensamento do filósofo Kant, um dos melhores da história da humanidade, que afirmava: “De mim não aprendereis filosofia, antes como filosofar, não aprendereis pensamentos para repetir, mas antes como pensar”.
O objectivo único deste guia é expor de forma sintética os pensamentos de alguns dos grandes pensadores que marcaram a evolução do pensamento político e que se tornaram responsáveis, indubitavelmente, pelas maiores proezas atingidas no nosso século, mas também pelos maiores desastres. Como tal, encontramos exposições que vão de autores clássicos como Platão, Sócrates e Aristóteles, passando por autores medievais como Santo Agostinho e São Tomás de Aquino e culminando em autores como Roussseau, Hobbes e Marx.
Torna-se importante referir que, na maioria dos casos, se torna redutor a análise feita por Harvey C. Mansfield a alguns dos autores que nos são apresentados. A título de exemplo é importante referir que um bom estudante de filosofia política, nunca poderá ter uma visão abrangente do pensamento comunista de Karl Marx e Frederich Engels socorrendo-se exclusivamente das ideias que nos são apresentadas, tal como não faz qualquer sentido abordar esta temática sem nos socorrermos de outros autores posteriores aos mesmos para que possamos compreender a evolução do pensamento comunista. Falo pois de Bernestein e Kautsky precursores da social-democracia, de Leon Trotsky precursor do pensamento da “revolução permanente” marxista e até mesmo Keinz que lançou a concepção de “Estado Social”, responsável por grande parte da evolução dos estados ocidentais e que hoje se encontra em risco pelas novas doutrinas liberais que reclamam a anulação total e letal do estado e o consequente aumento da disparidade económica entre as classes sociais.
Não querendo fazer deste trabalho um resumo da obra que acabamos de ler, gostava de frisar, que já Aristóteles dizia que “o homem é um animal político” e que esta ideia continuou a ser defendida e difundida por inúmeros pensadores, até aos dias de hoje. Para comprovar esta afirmação basta analisar a frase de um dos maiores poetas, combatentes e mestres do teatro da história da humanidade Bertolt Brechet: “o pior ignorante é o ignorante político, não sabe o imbecil que é da sua ignorância que nasce a prostituta”. Não querendo satirizar a situação, posso provar a justeza destas afirmações e ir mais longe ao dizer que, sem sombra de dúvidas, o homem é obrigado a viver, na minha opinião, sobre tutela de um estado e de uma sociedade eminentemente política. Comprovou-nos Hobbes com a sua análise ao estado natureza (que pré-existe a sociedade) e também o próprio J. J. Rousseau, embora com visões bastante diferentes do mesmo. De salientar que o pensamento de Hobbes precede e em parte advém do pensamento de Maquiavel para quem uma pessoa só detém o poder ou através da adoração ou sendo temido. Todo este pensamento encontra-se descrito no livro colocado para análise e começa com Hobbes, passa por Kant e Locke e termina com Rousseau e Nietzsche, este último, precursor do conflito da natureza contra a razão.
No fundo, durante todo o livro, apontam-se caminhos que foram traçados por diversas personalidades da história do pensamento universal. Enunciam-se autores e explicam-se teorias e concepções políticas da sociedade e procurar-se sintetizar a filosofia política. Todos estes ingredientes, a precisão da escolha dos autores abordados e como não poderia deixar de ser, a inevitável, sequência histórica que nos é apresentada, tornam este livro uma preciosidade para a melhor compreensão das teorias políticas da filosofia normativa.



“Todos os filósofos que investigaram os fundamentos da sociedade sentiram necessidade de retroceder até um estado de natureza, mas nenhum chegou lá […]. Em suma, todos eles, insistindo constantemente em necessidade, avidez, opressão, desejos e orgulho, transferiram para o estado de natureza ideias que foram adquiridas em sociedade. E, assim, em vez de falarem do selvagem, descreveram o homem social”.

(Rousseau, Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens, 50)

1 comment:

Filipe de Arede Nunes said...

Acho que vou ter de adquirir este livro. Depois pergunto-te onde o posso encontrar.
Ah, quanto ao trabalho, necessitaria de algumas correcções quanto à forma, mas de conteudo - sem conhecer o objectivo - parece-me bastante razoavel.